blog em memória da gazetilha que "circulou na cidade de Cachoeira do Arari (ilha de Marajó, Estado do Pará) no biênio 1906 / 1907. Fôlha pequena, a 3 colunas. Redigido por Alfredo N. Pereira." (cf. Carlos Rocque, "Grande Enciclopédia da Amazônia"). O editor era meu avô paterno, usava tipográfica manual no Chalé celebrizado nos romances de Dalcídio Jurandir, notadamente "Chove nos campos de Cachoeira" e "Três casas e um rio".

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ave Guará, pássaro caruana!

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O pássaro Guará Eudocimus ruber é uma ave ameaçada de extinção, principalmente devido à devastação dos mangues na faixa tropical do oceano Atlântico, mas também pela ação de predadores da espécie e caçadores. Quer dizer, nosso popular Guará (não confundir com o cachorro selvagem de mesmo nome) é um indicador ecológico do bioma de costa marítima americana e ilhas do Caribe. Na cultura tradicional marajoara, ademais, ele é tótem dentre outros da paisagem cultural insular. Símbolo de energias telúricas denominadas "caruanas" na Encantaria regional, pela arte e ciência de pajés sacacas ["pajés de 7 fôlegos" ou "pajés verdadeiros"...].

Será talvez o pássaro Guará representação do "espírito santo" dos cabocos ribeirinhos, tal qual a Pomba Branca é alegoria da terceira pessoa da Santíssima Trindade para os cristãos. Entretanto, a cosmogonia herdada dos índios ao contrário dos europeus começa na natureza para engendrar a cultura: aqui nós contemplamos um respeitável elo da cadeia evolutiva vital entre Natureza e Cultura presente na vida e na morte, segundo a tradicional marajoara. Natureza viva que, através da especificidade e complexidade do "Homo sapiens" amazônida, alça vôo do chão encharcado para o alto reino da imaginação além das nuvens e se materializa na arte popular da terra dos cabocos.

Em sua missão na Amazônia (1652-1661) o padre grande Antônio Vieira, visionário do "Quinto Império do mundo" ou "reino de Jesus Cristo consumado na terra", relatou o costume dos índios do Pará em decorar canoas cerimoniais com plumas de aves da região, notadamente o forte vermelho da plumagem dos guarás-pirangas. Afinal, "guará" é corruptela de Uirá (pássado, em tupi), simplesmente "pássaro vermelho"... No encontro histórico de pacificação das ilhas do Pará e Baixo-Amazonas, no rio Mapuá [Reserva Extrativista Florestal de Mapuá, em Breves] em 27 de agosto de 1659, a cabo da guerra de expulsão dos holandeses e ingleses desde 1623; tratada diretamente com os sete caciques das ilhas do Marajó; o Payaçu dos índios descreve (Cartas, I, 486-487): "... a nação dos Nheengaíbas que tinha prometido fazer a povoação fora dos matos, em que receber aos Padres: e duas léguas antes do porto, saíram os Principais a encontrar as nossas canoas, em uma sua grande e bem esquipada, empavezada de penas de várias cores, tocando buzinas e levantando pocemas, que são vozes de alegria e aplausos...".

Ibis rubra ou guará-piranga a ave Guará para mim tem valor especial. Já tive oportunidade de publicar crônica no jornal "O Liberal", de Belém do Pará, em anos passados a respeito de um certo Natal marajoara: o primeiro em minha memória infantil, no qual minha mãe fez em papel crepon um lindo guará como presente de Papai Noel na vila Itaguari [Ponta de Pedras], na ilha do Marajó. Terminei perdendo o presente entre chuvas e molecagens no quintal, mas nunca esqueci o significado daquele dia para mim. Na quadra junina o Boi-Bumbá e cordões de pássaros, notadamente o cordão do Guará, povoava a vila de sonho e fantasia. Eu vivia, então, na maior ilha fluviomarinha da Terra, mas não sabia; cerdado de lendas e história na mais profunda igonorância de tudo quanto isto representa para a gente marajoara ilhada no gigante Brasil e o vasto mundo.

A ave guará (ibis rubra) do gênero das pernaltas de bico comprido e recurvado, de plumagem vermelho-carmesim com a extremidade das asas orlada de preto carece proteção na futura reserva da biosfera do Marajó. Ele tem seu habitat natural em lagoas e mangues próximos ao mar. O padre José Anchieta refere-se ao guará-piranga em carta de 1560 dirigida ao padre Diogo Laines,em Roma:

"- Há ainda uma ave marinha (aquática) por nome guará igual ao mergulhão, mas de pernas mais compridas, de pescoço igualmente longo, de bico estendido e adunco. Alimenta-se de caranguejos e muito voraz. Dá-se com ele uma perpétua metamorfose. Na primeira idade reveste-se de penas brancas, que se mudam depois em cor cinza, e passando algum tempo tornam a embranquecer, embora de menor alvura que na primeira idade; e por fim, ornam-se de cor purpúrea, belíssima; as quais os brasis muito apreciam, pois com elas enfeitam os cabelos e os braços nas suas festas".



Os guarás são comentados na biografia de Anchieta como protetores contra o rigor do sol, pela formosa nuvem que em certa ocasião fizeram sobre a sua canoa missionária. Esta linda ave pernalta deu origem ao nome da cidade de Guaraparim [Guarapari-ES]. Um curumim (menino) teria indicado a seu pai estas aves que costumam ficar com uma perna recolhida, dizendo: "Olhe, o guará tem uma perna só! Parim (manco)!". Trata-se de uma anedota, por certo. No Pará, diversos topônimos lembram o guará, com a ilha Arapiranga [Uiara-Piranga, guará-piranga] em destaque.

Os mangues e lagoas costeiras do Salgado são povoadas destas aves que se acham ainda no litoral do Nordeste. Mas, infelizmente já foram extintas no Sudeste.

Nome popular: Guará

Nome Científico: Eudocimus ruber

Distribuição geográfica: É encontrada principalmente no norte da América do Sul.

Habitat natural: Manguezais

Hábitos alimentares: Comepequenos crustáceos ricos em carotenos (que dão a cor vermelha)

Tamanho: Cerca de 58 centímetros.

O guará (Eudocimus ruber) é uma ave brasileira encontrada principalmente em manguezais da costa norte da América do Sul. Os guarás fazem parte da família Threskiornithidae, mundialmente conhecida como íbis.

Têm aproximadamente 58 cm, vivem em bandos que chamam a atenção devido a sua exuberante coloração vermelha.

Essas aves alimentam-se principalmente de pequenos crustáceos ricos em carotenos, resultando na intensa pigmentação vermelha que estas possuem. Alguns livros descrevem o bico do guará fêmea diferente do macho, um pouco mais fino e com a ponta negra. Já os machos, no período de reprodução, possuem o bico negro brilhante.

Antigamente guarás eram encontrados até Cubatão, em São Paulo; local de muitos mangues, mas devido à degradação ambiental com a poluição do mar, desmatamento e ocupação dos manguezais, acabaram migrando para outras regiões. O guará foi extinto em grande parte da costa brasileira devido à caça: suas penas eram aproveitadas para adorno, seus ovos eram coletados e os ninhos destruídos, comprometendo assim a sobrevivência da espécie.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

tornar perene o lago Arari: um sonho antigo

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no fogo das paixões que a campanha eleitoral levanta, a propaganda do candidato Paulo Rocha ao Senado da República promete que se o mesmo for eleito há de apresentar e defender projeto para perenização do lago Arari. O blogue "O Arary" fiel à folha míúda que lhe deu origem na antiga vila de Cachoeira do rio Arari não poderia deixar de comentar tal assunto de fundamental interesse público da maior ilha fluviomarinha do planeta. De toda maneira, esta breve nota será apenas para marcar presença e manifestar votos de sucesso ao atual deputado federal para chegar à chamada "câmara alta" do Parlamento Nacional.

vale esperar mais um pouco para voltar ao assunto depois das eleições. Desde agora todavia se deve dizer que a perenização do lago Arari é um velho sonho dos marajoaras e que a justa aspiração da gente merece estudo multidisciplinar profundo com embasamento científico e verdadeira ambição de futuro. Para o que, em se tratando do que é, não apenas um imenso reservatório natural de água da chuva e criatório de peixes que descem dos pantanais ("mondongos")com a estação das águas; mas uma fonte perene da ancestralidade da Cultura Marajoara (primeira sociedade complexa da Amazônia), convém advertir: devagar com o andor porque o santo é de barro!

melhor, devagar porque a gente está com pressa. Desistir jamais. Obrigado ao deputado companheiro Paulo Rocha, notável pela autoria da Lei Contra o Trabalho Escravo. Se Deus quiser ele chegará lá.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

conexões brasilianas do Oiapoque ao Chuí: Cabanagem e Farroupilha

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Hoje é feriado no Rio Grande do Sul em homenagem do povo gaúcho à revolução Farroupinha. Contemporânea a esta, a Cabanagem no Pará está ligada à Farroupilha inclusive pela presença em ambas do genocida Andrea Soares (barão de Caçapava)e do cabano Manoel Angelim Nogueira (irmão de Eduardo Angelim). Preso no Pará e recrutado pelas forças imperiais ele foi mandado lutar contra os farrapos, mas na batalha de São José do Norte o cabano conseguiu escapar e passou a lutar ao lado dos revolucionários gaúchos. Mais tarde, o irmão mais novo do presidente Eduardo Angelim participou da guerra do Paraguai e de volta ao Rio Grande do Sul findou seus dias como estancieiro num rincão gaúcho, ele que vinha de família de retirantes do Ceará no Pará.

Fatos como este devem ser rememorados na história do bravo Povo Brasileiro. Para isto, a rede de Pontos de Cultura pode capilarizar e acelerar a descoberta da história nacional de Norte a Sul. No Pará, o dia 7 de Janeiro de 1835 -- início da maior insurreição popular da América Latina em que o povo assumiu o poder e cuja consumação final se faz agora por meios pacíficos e democráticos --, por costume, ao contrário da Farroupilha a revolução amazônida passa em brancas nuvens. Em lugar de rememorar a resistência paraense com seus 40 mil mortos (em 100 mil habitantes) comemora-se à "data magna" de 15 de agosto, que é exatamente a causa da revolta popular de 1835, como o maior feriado do estado do Pará.

O problema é que, em 1823, nessa data cometeu-se a falsificação histórica por colonialistas ingleses e portugueses para abafar o movimento independentista 14 de Abril que, em 28 de Maio na vila dem Muaná (ilha do Marajó) proclamou formalmente a Adesão do Pará à Independência do Brasil.

Contra falsa "adesão" neocolonial de 15 de agosto, o povo paraense reagiu e foi duramente reprimido pelo mercenário inglês John Pascoe Greenfell no outubro sangrento do mesmo ano. Episódio central que culminou com o assassinato premeditado de 252 nacionalistas asfixiados nos porões do navio São José Diligente, dito "Palhaço" (fato conhecido como "a tragédia do Brigue Palhaço"). Uma história comparativa entre as contemporâneas Cabanagem e Farroupilha, por exemplo, poderia lançar luzes sobre os subterrâneos de nossa história e nos ajudar a construír um Brasil mais brasileiro e democrático (José Varella, Belém-PA, 20/09/2010).

O aniversário da Revolução Farroupilha
Enviado por luisnassif, seg, 20/09/2010 - 07:57
Por Nicolas Timoshenko

Nassif - hoje feriado aqui no Rio Grande do Sul – Comemora-se a Revolução Farroupilha e através do teu blog, se me permites, presto uma homenagem ao meu estado e ao meu povo – sem nenhum viés bairrista.


Revolução Farroupilha (Resumo)

A Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, que durou dez anos, de 1835 a 1845, foi uma rebelião separatista liderada pelos pecuaristas do Rio Grande do Sul contra o governo imperial do Brasil.

Eles reclamavam da concorrência desleal do charque (carne-seca) vindo de Uruguai e Argentina, cujos impostos eram muito baixos, prejudicando a comercialização do charque produzido no Rio Grande do Sul, destinado, principalmente, à alimentação dos escravos.

�s a batalha de Seival, em 11 de setembro de 1836, o general Antônio de Sousa Neto, das tropas sulistas, proclamou a República Rio-Grandense, naquele momento denominada “República de Piratini”, pois este era o nome da primeira capital ao novo país. O presidente aclamado da nova república foi Bento Gonçalves, pecuarista que havia lutado na Guerra da Cisplatina, contra o Uruguai.

A constituição da República Rio-grandense foi aprovada em 1843, em Alegrete. A República Rio-Grandense teve cinco capitais em seus nove anos de existência: Piratini, Caçapava do Sul e Alegrete (oficiais), Bagé (somente por duas semanas) e São Borja. Seus presidentes foram Bento Gonçalves da Silva e Gomes Jardim. Santa Catarina se uniu aos revolucionários.

Após as vitórias das tropas comandadas por Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro, o Estado se declarou independente em 1939, com o nome de República Juliana e capital na cidade de Laguna.

Ao assumir o trono do Império do Brasil, em 1840, Dom Pedro II tentou estabelecer a ordem política no país e para isso decidiu anistiar os revoltosos. Porém, a revolução continuou e foi preciso que o então Barão de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva, comandasse as tropas federais contra os revoltosos.

Com habilidade, Caxias conseguiu entrar em acordo com os revoltosos e a paz – através do Tratado de Poncho Verde – foi assinada no dia 1 de março de 1845, mesmo dia em que foi dissolvida a república Rio-Grandense, dando fim à mais longa guerra civil brasileira.

Os revoltosos foram anistiados e os soldados e oficiais farroupilhas foram incorporados ao exército imperial. Para efeito legal, a República Rio-Grandense ou de Piratini, nem chegou a existir, pois não foi reconhecida por nenhuma nação. Seu resultado prático foi conseguir uma atenção maior do Governo aos Estados do Sul do País e leis protetoras para sua pecuária.

A revolução, que originalmente não tinha caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal que viria a ocorrer em São Paulo em 1842 e para a Revolta denominada Sabinada na Bahia em 1837, ambas de ideologia do Partido Liberal da época, moldado nas Lojas Maçônicas. Inspirou-se na recém finda guerra de independência do Uruguai, mantendo conexões com a nova república do Rio da Prata, além de províncias independentes argentinas, como Corrientes e Santa Fé.

Chegou a expandir-se à costa brasileira, em Laguna, com a proclamação da República Juliana e ao planalto catarinense de Lages. Teve como líderes: Bento Gonçalves, General Neto, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Pedro Boticário, Davi Canabarro, Afonso José de Almeida Corte Real, Teixeira Nunes, Vicente Ferrer de Almeida, José Mariano de Mattos, além de receber inspiração ideológica de italianos carbonários refugiados, como o cientista Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além de Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália.

A questão da abolição da escravatura também esteve envolvida, organizando-se exércitos contando com homens negros que aspiravam à liberdade.

Para saber mais: Wikipédia

domingo, 19 de setembro de 2010

acabem com o Tribunal de Contas!

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Sou cidadão brasileiro, Servidor Público concursado (aposentado por tempo de serviço em 14 de julho de 1998, por acaso no dia da Queda da Bastilha), aos 73 anos de idade junto com idosos, a meninada entre 16 e 18 anos de idade e os analfabetos não sou obrigado a votar nem a trabalhar pelo bem Público. Todavia, voto e não deixo de dar palpite ao poder público como qualquer cidadão na plenitude de seus direitos políticos.

Sabendo disto, um amigo me perguntou se eu sou ingênuo ou um grande "artista" da arte cênica (ou cínica) onde desfilam cobras e lagartos da fauna política. Honestamente, não sei dizer e não estou interessado no rótulo simplista. O que sei, com certeza, é que sou um fracasso em matéria de compra e venda de qualquer tipo de mercadoria. E que, em duas tentativas eleitorais (1961) e (1996), na minha querida vila de Ponta de Pedras, fiz papel voluntário de anti-cantidato.

Tal qual o melhor Ficha Limpa de democracia de primeiro mundo faria o mesmo, como podem adivinhar a minoria livre e consciente da pequena cidade da Ilha do Marajó deu-me a honra de sufragar meu nome, mas felizmente (sic), felizmente, repito; o total de votos foi insuficiente para a pretendida vaga de vice-prefeito, no primeiro caso e de vereador no último.

Com a larga experiência de mais de 40 anos de serviço público em todos níveis da federação, incliundo exterior; um caboco por mais ingênuo que seja acaba limando a credulidade própria de quem vive ilhado no fim do mundo. Por mais rude que a gente seja, cedo ou tarde, acaba aprendendo algo da comédia da arte e ciência política que fez Nicolau Maquiavel odiado e famoso.

Assim, quando depois de muita pajelança meia dúzia de cabocos motivaram a igreja regional a gritar socorro aos pobres das ilhas do Marajó, fomos nós convidados a ir ao Palácio dos Despachos dizer lá o que fazer para remediar o baixo IDH da população. O caboco que vos fala, fazendo jus ao dote de quixote, sentenciou severamente. Acabem com o Tribunal de Contas... Que grande piada!

E mais não foi dito nem perguntado. Como tantas outras vezes demos risadas, tomamos água gelada e sorvemos cafezinho... O tempo passou até a piracema de assinaturas em petição do projeto Ficha Limpa: gato escaldado tem medo de água fria. O caboco não fez romaria no tal movimento que parece arma de dois gumes. De todo modo, para não dizer que nós estamos de acordo com caixas 2, 3 ou 4; mensalinhos ou mensalãos, lobies de toda sorte, etc; digamos logo que estamos prontos a assinar qualquer petição propondo extinção dos atuais cabides de emprego para políticos em fim de carreira chamados "tribunais" de conta.

Aproveitando a maré da faxina pretendida pelo movimento FICHA LIMPA, também o Senado deveria ser extinto e absorvido pela Câmara dos Deputados, Nesta última os célebres "300 picaretas" de sempre, que sugam trabalho de assessores técnicos e de verdadeiros parlamentares; deviam ser obrigados a mostrar a cara e trabalhar contra ou a favor do governo. O País evoluiria do reizado temporário a um quase parlamentarismo, descolando a figura do presidente da República do mito de manda-chuva todo poderoso e responsável por todos humores da República.

Claro, para diminuir um pouco minha taxa de ingenuidade, termino aqui por sugerir concurso e posse de juízes bem preparados e togados em lugar de ministros leigos para assento no TCU. Ou seja, uma justiça de alçada administrativa. Ou, então, a doutrina de Stanislau Ponte Preta (Sergio Porto): implantemos a moralidade pública ou que nos lucupletemos todos!

Como sabem,no passado, algo começou tal qual o contemporâneo Ficha Limpa e a Cristandade terminou mal com o famigerado Tribunal da Inquisição do Santo Ofício.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Plano Mandela e prêmio Nobel da Paz para Lula

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a melhor história é aquela escrita anônimamente com sangue, suor e lágrimas pelo povo na cabeça e no coração da gente. Desta fonte eterna captada por poetas, profetas, políticos, cientistas etc. surdem-se grandes ideias privatizadas ou socializadas conforme os atores no complexo jogo dialético da sociedade de classes.

adiante vai modesto tributo do caboco marajoara ao passado Fórum Social Mundial (FSM), ocorrido em Belém em 2009, e humilde nota ao lançamento da candidatura do Presidente Lula ao Nobel da Paz pela Governadora do Estado do Pará, Ana Júlia Carepa. O prêmio Nobel da Paz e a sugestão de um segundo "plano Marshall", agora em homenagem a Nelson Mandela, para reconstrução socioambiental de povos e populações tradicionais lesados por cinco séculos de colonialismo; são duas proposições convergentes que deviam ser objeto de consideração da opinião pública internacional.

nas eleições no Brasil de 2010 vemos interesse internacional em pressionar o Congresso nacional para aprovar, rapidamente, a chamada lei Ficha Suja ou Ficha Limpa apoiado por "um milhão de assinaturas", clara desconfiança do discernimento dos eleitores brasileiros e de manipulação indevida no lançamento de candidatos sob suspeita de corrupção. Todavia, quando se trata de ir à raíz das seculares desigualdades entre o rico hemisfério Norte e o pobre hemisfério Sul, a maioria de admiradores de Catão faz vista grossa e ouvidos de mercador.

o blogue agradece à multinacional mantenedora desta plataforma tecnológica permitindo a expressão do fim do mundo e ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) por dar eco à proposta do caboco. (José Varella, Belém, 17/09/2010).

A lição de Mandela para uma Amazônia em perigo
Por José Varella*

Em 2009, vamos ter em Belém do Pará oportunidade única de
fazer história pós-colonial no acontecimento do Fórum
Social Mundial no imenso portal ribeirinho do golfão
marajoara, no qual as Amazônias verde e azul se unem
inseparavelmente. Espaço cultural onde, há 350 anos no
Arquipélago do Marajó, rio Mapuá (Breves-PA, de 22-
27/08/1659), o payaçu dos índios Antônio Vieira célebre
pela utopia sebastinista do “Quinto Império”; oficiou a paz
impossível entre as duas margens do rio das Amazonas. E,
assim, as duas partes desavindas numa guerra colonial
(1623-1647) deram base concreta de fato consumado à futura
revogação do tratado de limites de Tordesilhas (1494), que
viria enfim por força das evidência habilmente defendidas
por Alexandre Gusmão na mesa de negociação, um século
depois, obter reconhecimento do uti possidetis real através
do tratado de Madrí (1750): a “ruptura” efetiva de uma
linha colonial imaginária!...
Mas, não é verdade que menos de uma centena de militares e
padres portugueses dominassem multidão bárbara de milhões
de “índios” amorfos... Houve, sim, convergência de diversos
interesses locais: essa convergência inter-amazônica é que
deu materialidade à tese do uti possidetis real de 1750.
Chamou-se, geopoliticamente, estado-colônia do Maranhão e
Grão-Pará (1621-175) e depois do Grão-Pará e Maranhão até
1823. Agora Amazônia Brasileira (com nove estados
federados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins e parte do Maranhão e Mato Grosso). Foram nações
índígenas que, movidas por disputas internas milenares e
premidas por circunstâncias externas em choque cultural
jamais vivienciado por elas, optaram por algo que ainda não
está claro à mentalidade superficial dos “brancos”...
Compreende-se, então, a razão política elitista pela qual
falta interesse acadêmico a fatos insólitos como este.
Portanto, alguns patriotas querem promover inclusão social
da gente ribeirinha, sem antes providenciar a inclusão da
cultura popular na História do Brasil. Porém, Euclides da
Cunha já havia advertido a República Brasileira sobre a
histórica marginalização do homem amazônico, que não é
“índio”, nem “quilombola” e talvez nem mesmo “amazônida”.
Mas, unicamente ser humano, como qualquer outro da Terra,
dotado de razão e consciência como reza a convenção
universal dos Direitos Humanos. Com direito fundamental de
ser possuidor da nacionalidade que ele mesmo ajudou a
construir, ocupando ancestralmente o espaço comum e mais
tarde delimitando o território nacional.
A “ruptura” de Tordesilhas é o fato essencial que os remos
e arcos do bom-selvagem Tupinambá demonstraram ser uma
fantasia cartográfica das Cortes, face a uma realidade
autóctone. Pela qual a transgressão portuguesa cometida
pela entrada de Pedro Teixeira, de Belém a Quito (1637-
1639), em fins da União Ibérica (1580-1640) serviu de
fundamento antes de ser relato escrito com tinta no papel.
Todavia, uma história regional nascida das contradições
dilacerantes do colonialismo, em meio a controvérsias de
interesses mundializantes no choque entre Reforma e Contra-
Reforma, tendo no meio o conflito árabe-europeu e o antisemitismo
recheando o debate. Aspectos amazônicos da
expansão ocidental poucos estudados e divulgados, dizem
respeito à lesão ao direito de autodeterminação de um povo
valente que, resistindo a invasões e abandonos, insiste
ainda em se integrar ao Brasil por atração geográfica da
América do Sul e a opção preferencial pela cultura
lusofônica internacional.
Recado a Mandela pelos bons ofício do embaixador honorário do Pará
Vivemos conseqüências do passado: o século 21 é estuário de
tantos acontecimentos que jazem entre chuvas e
esquecimentos. O momento de um pacto federativo sem
precedentes, que se chama Plano Marajó (Plano de
Desenvoltimento Territorial Sustentável do Arquipélago do
Marajó), como resposta da República Federativa do Brasil a
uma demanda do povo das ilhas, cujas origens se podem ver
desde o século XVII nas cartas do Padre Antônio Vieira ao
rei de Portugal ao reportar protestos do cacique Piié Mapuá
(cf. Serafim Leite), colocado nas circunstãncias como
porta-voz dos Nheengáibas insubmissos à ordem colonial.
Que melhor ocasião para iniciativa paraense de alcance
mundial, motivando apoio de personalidades emblemáticas,
como o casal Nelson Mandela e Graça Machel (ela, viúva de
Samora Machel, herói nacional de Moçambique), por
intermédio de Jack Lang, o Embaixador voluntário do Pará e
paladino da latinidade?
O mundo acossado pela mudança climática e o inexorável
avanço do fosso entre ricos e pobres carece de um Plano
Mandela. O que seria isto? Um pacto social mundial com base
na experiência e contradições históricas da África do Sul.
Equivalente para o terceiro mundo ao que foi o plano
Marshall para reconstrução da Europa devastada pela Guerra
Mundial. Urge inventar o tempo pós-colonial como
instrumento de paz mundial duradoura: um mundo pós-moderno
para todos.
Marajó devido sua expressão geográfica na paisagem cultural
do estuário amazônico, está presdestinado a mandar um tal
recado ao mundo industrial que caminha em direção ao
impasse definitivo entre sociedade e natureza. Mas, sejamos
sinceros falta na comunidade pan-amazônica interlocutor à
altura do desafio. Então, se o desenvolvimento econômico
devastador fez grande Dívida Externa, que resulta no IDH
que temos nas ilhas do Marajó, por exemplo; será necessario
contrair na África uma dívida moral, ainda maior do que já
temos com os escravos africanos vindos a Amazõnia poupar a
última parcela indígena de genocídio total.
Síndrome de Versalhes em paisagem urbana de terceiro mundo
Testemunhei por acaso o desabafo do sociólogo pósindustrial
Domenico De Masi contra a irremediável feiúra e
non-sense climático de certos espigões de concreto no Pará,
que assassinaram belos casarões da arquitetura lusotropical
da “cidade das mangueiras” a fim de lhes tomar o
lugar evocando nomes de torres e palácios da velha Europa
transplantada aos tristes tropiques.
Os povos são vítimas inevitávies dos tempos modernos, como
na antiguidade o imperialismo faraônico carecia de multidão
de escravos para construir mausoléus. A insuportável
ditadura dos mortos sobre os viventes. Esta expandida
seqüela já está sendo chamada alhures de “síndrome de
Versalhes”: estranha compulsão das elites nacionais a
colecionar elefantes brancos ao custo do desenvolvimento
humano das classe trabalhadoras e da alienação da pequena
burguesia bombeada pelo cartão de crédito que vai desaguar,
enfim, no grande mar das corporações financeiras.
Mas, já sabíamos que a antiga aliança do trono com o altar
foi substituída pelo pacto entre a imagem e o dinheiro. O
que fizemos então? Praticamente nada! Mas, as populações
tradicionais poderiam nos mostrar o caminho da
sustentabilidade? Certa vez um paje Ianomami garantiu que
no fim da história seriam eles, os pajés, que salvariam
brancos e não-brancos... Era preciso decifrar a
complexidade de Morin e fazer a aposta de Pascal para,
talvez, chegar perto do pensamento neotropical daquele
profeta da selva amazônica...
Como metáfora da tragédia global, o palácio de Versalhes
numa fria manhã de Paris é comparável a um templo vazio
onde fantasmas costumam meditar e lamentar tão grande
alienação de súditos e escravos perdidos a sustentar deuses
e reis, para edificar monumentos à loucura como o caso das
pirâmides do Egito. Cortaram-se as reais cabeças mas não a
cultura do desperdício que está dentro de nossas cabeças.
Para concluir o percurso parisiense e não se retornar de lá
sob efeito hipnótico das Luzes, convém ir despertar da
ilusão na praça da Bastilha.
Foi o que fiz uma vez andando à deriva pela pátria de
Astérix. Hoje, na perifeira uns querem ser o rei do gado,
outros da soja ou do fast-food.. Todos aspiram a habitar
arranha-céus com nome da Belle Époque carregada sobre as
costas dos pobres do mundo. Em Belém temos ainda o belo
prédio Paris n'América que deve ser preservado, acredito,
como centro de estudos históricos dos seringueiros da
Amazônia. Um busto de Chico Mendes deveria ser colocado em
seu vestíbulo: para que os visitantes compreendessem que
sem seringueiros não teria nascido a indústria da borracha,
inclusive o pneumáticos de automóveis... Cuja mais valia
foi apropriada na arquitetura que deve ser democratizada,
no futuro, pelo povo que ainda hoje dorme na rua debaixo de
chuva ou do brilho das estrelas...
A síndrome da deficiência cultural adquirida pela
propaganda primeiromundista é um contágio pior talvez do
que a AIDS, pois àquela não há preservativos nem remédios
distribuidos gratuitamente. São os afetados pelo mal do
consumismo que têm que arranjar dinheiro, Deus sabe como, e
pagar e pagar desde o nascimento até a morte. Então, o
movimento anti-colonial ainda incompleto é uma genuína
revolução cultural pelo bem da humanidade inteira.
Inclusive os burgueses. Não se trata de modo nenhum em
estar contra a velha Europa, mas pelo contrário; estar com
ela incentivando a reconstrução do mundo pós-colonial para
o salto da História do Futuro...
Ajudar a velha Europa mundializante a morrer e a renascer,
simultaneamente. Como a Fênix mitológica. Missão histórica
da Latinidade desde os confins do mundo: a periférica
Galiléia é exemplo clássico da dialética centro-periferia,
entre o Norte e o Sul, Oriente-Ocidente: a Diáspora
infinita: pelo pensamento oriental, a serpente que morde a
própria cauda... Esta revolução mundial permanente que Jack
Lang e Hervé le Bras tratam magistralmente em Immigration
positive. Trata-se, então, de propor uma resposta adequada
à Globalização a partir de outras Galiléias dispersas pelas
diversas periferias (inclusive, dentro mesmo das regiões
européias “atrasadas”). Propor desde a Amazônia latina,
aliança estratégica entre Lusofonia e Francofonia no
sentido de uma nova renascença da latinidade universal a
fim de superar suas próprias contradições e converter o
mundo numa Terra sem males para todos.
rei Nelson: imperador do Quinto Império?...
O poeta Pessoa caso houvesse conhecido Nelson Mandela –
mesmo este não encarnando o arquétipo de herói
sebastianista –, poderia tê-lo considerado perfil ideal de
imperador do “Quinto Império”. Ainda mais tendo este a seu
lado uma mulher como Graça Machel, que fala e pensa como
cada uma de 220 milhões de pessoas falantes da língua
portugesa. Dado o triunfo sobre o apartheid na África do
Sul e a sabedoria política que Mandela demonstrou na hora
da verdade acerca das responsabilidades do imoral regime de
Pretória e a necessidade de reconciliação nacional.
Num cenário global o cúmulo do cinismo não espanta, quando
donos da periferia, como a ilha do Marajó, por exemplo;
tomam Dalcídio Jurandir, que denunciou o preconceito racial
e a exclusão social como males absolutos; contratam
advogados do Diabo para dizer ao público desinformado que
trabalho escravo e prostituição infantil no interiorzão
amazônico são fenômenos “culturais” [normais], e que isto
deveria ser tolerado à conta de usos e costumes
testemunhados na literatura dalcidiana... Que sofisticação
na arte de enganar! Quanta falta faz uma releitura de
Antônio Vieira 350 anos depois que ele demonstrou – pela
negociação de uma paz incrível, a fim de evitar uma guerra
impossível de vencer – que inventar um futuro melhor para
todos é preciso, viver não é preciso...
O Pará velho de guerra carece da lição de Mandela, para ir
ao encontro da sua amazonidade sem desprezo da
nacionalidade brasileira, pela qual nossos antepassados
pagaram alto preço. O que mais me seduz na personalidade
grande líder africano é a firmeza de caráter acompanhado de
tão grande dignidade com extrema sensibilidade à
necessidade da política para convivência dos contrários. É
neste aspecto, precisamente, que o herói vencedor do
arrogante regime de Pretória me parece representar o perfil
ideal do rei imaginado pelo payaçu dos Índios, Antônio
Vieira; o imaginado soberano do quinto e último imperio
universal. Uma utopia não-hegemônica capaz de levar avante,
não uma guerra santa até extinção total dos infièis; mas um
Príncipe da paz capaz de assegurar a biodiversidade e a
diversidade cultural como as duas faces da mesma moeda.
Aquele traço especial que faz a diferença entre homens
comuns e o herói. O que levou Jack Lang a chamá-lo de “rei
Nelson”, citando Cornélio: “Nenhum torpe desígnio, nenhuma
ingrata inveja / Atacará o curso de tão bela vida. / Haveis
descoberto toda arte de conquistar os corações”. E nunca
tanto quanto hoje o mundo esteve tão necessitado de heróis!
A Amazônia se prepara para ser, pelo menos por algum tempo,
em 2009, “centro do mundo”: temporariamente o “Quinto
Império” com o Fórum Social Mundial estará instalado às
margens do Guajará. Onde a lição de Mandela deve ser
evocada para presidir o espírito anti-apattheid para
abolição da dicotomia de Davos e progresso do esquema de
Porto Alegre.
A verdadeira revolução jamais ocorrida na história, senão
como longo ensaio para o século 21 no limiar do terceiro
milênio. Mais uma coincidência para as Metas do Milênio,
com fim de prazo na véspera dos 400 anos de fundação da
cidade de Belém do Grão-Pará (2016)... Se parábolas,
arquétipos, simbolismo onírico, alegorias e metáforas
tangentes à realidade servirem a alguma coisa, além do
ideal de beleza e justiça; então a posição geopoltica do
estuário amazônico no encontro dos extremos Oriente e
Ocidente no espaço curvo da biosfera planetária, no “meio
do mundo” entre os hemisférios Norte e Sul, há de querer
dizer alguma coisa...
Mas, a reconstrução pós-colonial está em marcha! A sulafricana
Nadine Gordimer, Prêmio Nobel de Literatura, ao
prefaciar a obra de Jack Lang Nelson Mandela – Leçon de vie
pour l'avenir (Nelson Mandela: Uma lição de vida, na versão
portuguesa, Editorial Bizâncio: Lisboa, 2005) toca num
ponto essencial. Muitos são os livros que tratam da vida e
obra do campeão da África do Sul na luta contra o
Apartheid. Provavelmente, outros mais hão de ser publicados
à medida que as relações Norte-Sul exigirem mais igualdade
e solidariedade entre homens e mulheres de boa-vontade. Até
o conseqüente advento de um grande Plano Mandela para
África, América Latina e as mais pobres regiões do mundo.
Nossa Amazônia está em perigo não apenas pela migração de
mais pobres além dos pobres que aqui já estão, vindos de
bolsões de miséria e desemprego em outras unidades da
federação para o “eldorado”. Nem tanto pelas oligarquias
que desmandam na região. Mas, também pela cumplicidade de
grandes centros de consumo de matéria-prima barata e
trabalho mal pago (para não dizer degradante ou escravo).
Que, saindo do ditado “cada um por si e Deus por todos”, um
Plano Mandela poderia remediar, aqui e acolá, mediante
solidariedade Norte-Sul em alto nível para socorro das
camadas mais carentes da população do mundo. No momento
mesmo em que o Governo Federal, o Estado do Pará e a
comunidade de municípios do Arquipélago do Marajó com a
sociedade civil empreendem todos juntos o Plano Marajó.
Ponto de partida para a Amazõnia Sustentável. Uma mensagem
a Mandela poderia ser passaporte para o futuro, tendo ainda
Paris com a lembrança da queda da Bastilha como grande
portadora do grito do fim do mundo.
José Varella, Nasceu em Belém - Pará - em 30/10/1937. É
ensaista, tem formação em direito e economia. Coordenador
da Universidade Livre Marajó-Amazônia, assessor do Museu do
Marajó e do Instituto Dalcídio Jurandir

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

no fim da Estória "tribos extintas" ressuscitam

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Depois de 500 anos de colonização não são em 5 anos que se pode remediar a História. Mas, quando a maré reponta e o vento ajuda aquilo que a resistência conservou como derradeira semente vem à luz do dia como prova da resiliência da vida. O fato em tela é que a tribos "extintas" estão ressuscitando. A notícia a seguir me fez recordar tempos idos e vividos quanto eu participei de uma linda cerimônia tradicional para desperar o Sol, festa na comunidade Sacaru, no rio Nhamundá, município do mesmo nome no estado do Amazonas, na divisa com o Pará.
Ave, resistência marajoara! (José Varella, Belém-PA, 13/09/2010).

Lá vem o Amarelão!
(Por Daniel Munduruku)
Desde algum tempo se diz que no Rio Grande do Norte não há mais indígenas. E também já faz tempo que disseminava esta informação durante minhas palestras para professores porque confiava nos dados fornecidos pelo órgão oficial e outros institutos. Até brincava com o fato das pessoas sempre imaginarem que um dos únicos estados brasileiros que não tem a presença de indígenas é o Rio Grande do Sul. A maioria das pessoas acreditam que lá – por conta da colonização européia forte e excludente – foram exterminados todos os indígenas. Não foi bem assim a história. De qualquer forma este sempre foi o imaginário popular.
Depois de algum tempo mudei a tônica de minha fala ao referir-me ao tema. Na verdade passei a incluir a palavra “supostamente” quando me referia à questão. Deixava subentendido que havia possibilidade de existir sim algum povo ainda “ocultado” em função das disputas de terra.
Os povos indígenas do nordeste foram os primeiros a serem “descobertos” pelos europeus. Por conta disso foram perseguidos e exterminados ao longo do processo colonizador. Quem fosse pego definindo-se como “índio” era fatalmente detonado da convivência social. Em função disso muitos grupos foram dispersados e os poucos que se mantinham vivos tinham que se “civilizar” para serem aceitos socialmente. Com isso acabavam esquecendo a própria língua, suas histórias, suas memórias ancestrais, seus rituais, cantos sagrados e crenças.
O tempo passou e o que parecia ter sido perdido no passado longínquo mostrou-se atual. Grupos inteiros estão buscando resgatar suas identidades esquecidas num movimento sociológico muito interessante e consistente. Estes grupos – povos ressurgidos, povos resistentes, para citar algumas denominações – passaram a reivindicar seus direitos históricos. Afinal, foram vítimas de uma história muito mal contada.
Estou dizendo isso porque há alguns dias atrás, enquanto participava do Encontro da Diversidade, um mega evento organizado pela Secretaria da Identidade e Diversidade (SID) do Ministério da Cultura[i], conheci Maria Ivoneide. Quem é ela? É uma indígena do Rio Grande do Norte. Ali estava a prova da existência de um povo antes negado. Ivoneide chegou-se a mim, apresentou-se. Disse que me conhecia. Fiquei lisonjeado. Argui algumas questões e fiquei sabendo que há mais de 10 anos estão pleiteando o reconhecimento de seu povo junto aos órgãos competentes. Alguns avanços já aconteceram. Nada vultoso. Um começo.
Descobri, então, que o nome de seu povo é Amarelão. Fiquei curioso. Por que este nome? A mim parecia uma invencionice. Não disse isso a ela. Apenas especulei. Ela explicou-me que o nome é oriundo de uma antiga tradição que lhes foi contada por seus velhos avós. Ela contou, então, uma história.
Segundo o costume dos antigos, os homens da comunidade – quando a noite se fazia alta – saíam floresta adentro para buscar o sol. Ficavam nessa função a noite toda e quando o dia se avizinhava voltavam e anunciavam para toda a comunidade: Lá vem o Amarelão! Lá vem o Amarelão!
Era uma referência ao sol que, àquela hora, já mostrava sua pujança.
Fiquei fascinado! Era uma história que tem tudo a ver com o pensamento mítico indígena. Senti que Ivoneide ficou feliz em me contar. Entendi o nome. É assim mesmo que os indígenas dão nomes às coisas e a si mesmos.
Ela ainda me confidenciou que antropólogos explicam o nome dizendo tratar-se de doença que descoloria a pele dos infectados. Nós dois rimos. É uma explicação racional de quem tenta explicar o inexplicável! Típico do ocidental!
O Povo Amarelão entrou no meu repertório. Rio Grande do Norte tem um povo. São cinco comunidades. Aproximadamente mil pessoas. A sociedade brasileira pode entender que não são “índios verdadeiros”. Não importa. O Amarelão (sol) sabe. Isso é que vale!
http://danielmunduruku.blogspot.com/2010/09/la-vem-o-amarelao.html

pra não dizer que não se plantaram flores

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O velho liberal Voltaire advertia, no "Cândido": "O mal existe. É preciso cultivar nosso jardim". Vinte anos depois da Ditadura de 64 ainda não se compreendeu que democracia, além de votar e dizer o que sente e pensa; é povo no poder com inclusão social e distribuição de renda. A herança maldita do colonialismo reluta em desaparecer. Para acelerar a tendência de diminuição do apartheid entre ricos e pobres em nosso país, em curso desde fins dos anos 90, é preciso turbinar programas federativos como os Territórios da Cidadania onde se integram ações públicas de desenvolvimento socioeconômico e ambiental em democracia participativa reunindo União, estados e municípios. Hoje são cerca de 120 consórcios territoriais, cuja experiência do que está dando certo e do que não deu deve ser reaplicada na formação de outros territórios federativos até, aproximadamente, 200. Com que algo como 4 mil municípios de menor IDH poderiam contar com maiores atenções (José Varella, Belém-PA, 13/09/2010).

Brasil está entre os dez países mais desiguais do mundo, revela estudo

Agência Brasil


DA REDAÇÃO - O economista-chefe do Centro de Políticas Sociais, vinculado à Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Côrtes Neri, afirmou que a baixa escolaridade da população brasileira mantém o País entre as dez nações mais desiguais do mundo. "Ainda estamos no top 10 da desigualdade mundial", disse.

Análise publicada pelo economista na mostrou que, desde 1996, há redução do índice de Gini. O indicador, que mede a concentração de renda (quanto mais perto de 1, maior a desigualdade), caiu de 0,6068, naquele ano, para 0,5448, em 2009.

Apesar da queda, o índice brasileiro é superior ao de países como os Estados Unidos (em torno de 0,400) e da Índia (0,300) e está próximo ao de nações mais pobres da América Latina e do Caribe e da África Subsaariana. "Saímos do pódio, mas ainda estamos entre os mais desiguais", afirmou o economista.

Segundo Neri, para diminuir a desigualdade, é preciso que a renda das classes mais baixas continue crescendo, que se mantenham programas sociais focados na população mais pobre e, sobretudo, que o Estado amplie a oferta de educação de mais qualidade e as pessoas permaneçam na escola.

O sociólogo e cientista político Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), disse que "a educação no Brasil é muito ruim" e que há um "excesso de valorização" da escolaridade, o que explica a grande diferença salarial entre quem tem curso superior e quem não tem nenhuma formação. Para ele, o desempenho educacional "não tem melhorado muito" e, portanto, nos próximos dez anos o quadro de desigualdade permanecerá.

Para o gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Cimar Azeredo, o Brasil tem "mazelas que não se desfazem de uma década para outra". Ele citou a diferença entre a renda de homens e mulheres, brancos e negros. "O passivo é muito grande. Somos há muito tempo um País desigual".

O estatístico e economista Jorge Abrahão de Castro, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), confirmou que o País ainda vive "as sequelas do passado" demonstradas, por exemplo, na última Pnad, que, além da desigualdade perene, indicou que um em cada cinco brasileiros com 15 anos ou mais tem menos de quatro anos de estudo.

De acordo com a Pnad, o percentual de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos na escola em 2009 era de 97,6%. Na avaliação dos especialistas, a permanência dessas crianças na escola resultará em melhoria de renda no futuro.

Para Marcelo Neri, da FGV, a chamada nova classe média brasileira, com mais de 95 milhões de pessoas, é formada por crianças e adolescentes que entraram e permaneceram na escola nos anos 90, quando houve universalização do acesso ao ensino.


.17:36 - 12/09/2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Lúcio Flávio Pinto, o jornalista da Amazônia

A carta de Lúcio Flávio Pinto aos blogueiros

O jornalista Lúcio Flávio Pinto, de Belém (PA), é ganhador dos principais prêmios de Jornalismo no Brasil. É um exemplo de ética, coragem, competência e dignidade para todos nós que atuamos na imprensa.

Por falar a verdade contra os poderosos do Pará, responde a vários processos. Desde que eles começaram, Lúcio Flávio procurou oito escritórios de advocacia de Belém. Nenhum aceitou defendê-lo.

A sua participação estava prevista no 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressitas. No entanto, não pode comparecer, pois na segunda-feira teve de apresentar agravo a um dos processos.

Para representá-lo, veio o filho Angelim Pinto. Em nome de Lúcio Flávio, leu esta mensagem aos participantes do encontro. Palmas da plateia interromperam-na várias vezes (Conceição Lemes).[no blog VIOMUNDO]

O TEXTO, QUE OS PRESENTES CONCORDARAM EM REPRODUZIR EM SEUS ESPAÇOS:

Caros amigos blogueiros Sinto-me muito honrado pelo convite, que devo ao Azenha e à Conceição Lemes, para participar deste encontro. É uma iniciativa generosa e gentil para com um analfabeto digital, como eu. Garanto que sou capaz de ligar e desligar um computador, de enviar e receber mensagens. Não garanto nada a partir daí.

Como, então, estou aqui? Sou – digamos assim – um blogueiro avant la léttre. Não podendo ser um tigre, posto que sou Pinto, fui precursor na condição de blogueiro de papel – e no papel. Às vezes, por necessidade, também um tigre in fólios – e nada mais do que isso.

Em 1987, eu tinha 38 anos de idade e 22 de profissão e me vi diante de um dilema.

Numa vertente, a carreira profissional bem assentada em O Estado de S. Paulo, então com 16 anos de “casa”, e também no grupo Liberal, a maior corporação de comunicação do norte do país, no qual tinha 14 anos, com um rompimento pelo meio, quando tentaram me censurar, logo superado pelo restabelecimento da minha liberdade de expressão.

Na outra vertente, uma matéria pronta, importante, mas que não encontrava quem a quisesse publicar. Era o desvendamento do assassinato do ex-deputado estadual Paulo Fonteles, por morte de encomenda, executada na área metropolitana de Belém, o primeiro crime político em muitos anos na capital do Pará. O Estadão publicara todas as matérias que eu escrevera até então sobre o tema. Mas aquela, que arrematava três meses de dedicação quase exclusiva ao assunto, era, segundo o editor, longa demais.

Já O Liberal a considerava impublicável porque ela apontava como envolvidos ou coniventes com a organização criminosa alguns dos homens mais poderosos da terra, dois deles listados entre os mais ricos. Eram importantes anunciantes. Ao invés de me submeter, decidi ir em frente.

Aí, há 23 anos nascia o Jornal Pessoal, sem anunciantes, feito unicamente por mim, assemelhando-se aos blogs de hoje. Um blog impresso no papel, que exerceu na plenitude o direito de proclamar a verdade, sobretudo as mais incômodas aos poderosos.

Em janeiro de 2005, depois de muitas ameaças por conta desse compromisso, fui espancado por Ronaldo Maiorana, um dos donos do grupo do grupo Liberal, que na época era simplesmente o presidente da comissão em defesa da liberdade de imprensa da OAB do Pará. Eu estava almoçando ao lado de amigos em restaurante situado num parque público de Belém, quando agressor me atacou pelas costas, contando com a cobertura de dois policiais militares, que usava – e continua a usar – como seus seguranças particulares.

Qual a causa da brutalidade? Um artigo que publiquei dias antes sobre o império de comunicação do agressor. O texto não continha inverdades, não era ofensivo, nem invadia a privacidade dos personagens. Mas desagradava aos senhores da comunicação. Embora tendo a emissora de televisão de maior audiência do Estado, afiliada à Rede Globo, o jornal que ainda era o líder do segmento (já não é mais) e estações de rádio, não usaram seus veículos para me contraditar ou mesmo atacar com o produto que constitui seu negócio, a informação.

O que resultou dessa agressão? Da minha parte, a comunicação do fato à polícia, que enquadrou o criminoso na forma da lei. Mas o agressor fez acordo com o Ministério Público do Estado, entregou cestas básicas a instituições de caridade (uma delas ligada à família Maiorana) e permaneceu solto, com sua primariedade criminal intacta. Já o agressor, com a cumplicidade do irmão mais velho e mais poderoso, ajuizou contra mim 14 ações na justiça, nove delas penais, com base na Lei de Imprensa da ditadura militar, e cinco de indenização.

O objetivo era óbvio: inverter os pólos, fazendo-me passar da condição de vítima para a de réu. Em quatro das ações eu era acusado de ofender os irmãos e sua empresa por ter dito que fui espancado, quando, segundo eles, eu fui “apenas” agredido. Mais um dentre vários absurdos aviltantes, aos quais a justiça paraense se tem prestado – e não apenas aos Maiorana, já que me condenou por ter chamado de pirata fundiário o maior grileiro de terras do Pará e do universo, condição provada pela própria justiça, que demitiu por justa causa todos os funcionários do cartório imobiliário de Altamira, onde a fraude foi consumada, colocando ao alcance do grileiro pretensão sobre “apenas” cinco milhões de hectares.

Os poderosos, que tanto se incomodam com o que publico no Jornal Pessoal, descobriram a maneira de me atingir com eficiência. Já tentaram me desqualificar, já me ameaçaram de morte, já saíram para o debate público e não me abateram nem interromperam a trajetória do meu jornal. Porque em todos os momentos provei a verdade do que escrevi. Todos sabem que só publico o que posso provar. Com documentos, de preferência oficiais ou corporativos. Nunca fui desmentido sobre fatos, o essencial dos temas, inclusive quando os abordo pioneiramente, ou como o único a registrá-los. Não temo a divergência e a contradita. Desde então, os Maiorana já me processaram 19 vezes.

Nenhuma das sentenças que me foram impostas transitou em julgado porque tenho recorrido de todas elas e respondido a todas as movimentações processuais, sem perder prazo, sem deixar passar o recurso cabível, reagindo com peças substanciais. O que significa um trabalho enorme, profundamente desgastante.

Desde 1992, quando a família Maiorana propôs a primeira ação, procurei oito escritórios de advocacia de Belém. Nenhum aceitou. Os motivos apresentados foram vários, mas a razão verdadeira uma só: eles tinham medo de desagradar os poderosos Maiorana. Não queriam entrar no seu índex. Pretendiam continuar a brilhar em suas colunas sociais, merecer seus afagos e ficar à distância da sua eventual vendetta. Contei apenas com dois amigos, que se sucederam na minha defesa até o limite de suas resistências, de um tio, que morreu no exercício do meu patrocínio, e, agora, com uma prima, filha dele.

Apesar de tantas decisões contrárias, ainda sustento minha primariedade. Logo, não posso ser colocado atrás das grades, objeto maior do emprenho dos meus perseguidores. Eles recorrem ao seu cinto de mil utilidades para me isolar e me enfraquecer.

Não posso contar nem mesmo com o compromisso da Ordem dos Advogados do Brasil. Seu atual presidente nacional, o paraense Ophir Cavalcante Júnior, quando presidente estadual da entidade, firmou o entendimento de que sou perseguido e agredido não por exercer a liberdade de imprensa, o direito de dizer o que sei e o que penso, mas por “rixa familiar”.

No entanto, dos sete filhos de Romulo Maiorana, criador do império de comunicações, só três me atacam, com palavras e punhos. Dos meus sete irmãos, só eu estou na arena. Nunca falei da vida privada dos Maiorana. Só me refiro aos que, na família, têm atuação pública. E o que me interessa é o que fazem para a sociedade, inclusive no usufruto de concessão pública de canal de televisão e rádio. E fazem muito mal a ela, como tenho mostrado – e eles nunca contraditam.

Crêem que, me matando em vida, proibindo qualquer referência a mim e meus parentes, e silenciando sobre tudo que fazem contra mim na permissiva e conivente justiça local, a história dessa iniqüidade jamais será escrita porque o que não está nos seus veículos de comunicação não está no mundo. Não chegaria ao mundo porque o controlam, a ponto tal que tem sido vão meu esforço de fazer a Unesco, que tem parceria com a Associação Nacional de Jornais, incluir meu caso na relação nacional de violação da liberdade de imprensa.

O argumento? Não se trata de liberdade de imprensa e sim de “rixa familiar”. O grupo Liberal, por mera coincidência, é um dos seis financiadores do portal Unesco/ANJ.

Após os Maiorana, o dilúvio. A maior glória do Jornal Pessoal é nunca ter sido derrotado no terreno que importa à história: o da verdade. Enquanto for possível, as páginas do Jornal Pessoal continuarão a ser preenchidas com o que o jornalismo é capaz de apurar e divulgar, mesmo que, como um Prometeu de papel, o seu ventre seja todo extirpado pelos abutres.

Eles são fortes, mas, olhando em torno, vejo que há mais gente do outro lado, gente que escreve o que pensa, apura sobre o que vai escrever e não depende de ninguém para se expressar, mesmo em condição de solidão, de individualidade, como os blogueiros, que hoje, generosamente, me acolhem nesta cidade que fiz minha e que tanto amo, como se estivesse na minha querida Amazônia.

Para ir ao Jornal Pessoal, clique aqui

Durante o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, vários participantes solicitaram a conta para colaborar com o Lúcio Flávio nesta luta . Ficou decidido que forneceríamos depois. Aqui, está. Obrigadíssima a todas e todos pela solidariedade.


BANCO ITAÚ (banco 341)
Conta: 07164-8
Agência: 9208
CPF: 610.646.618-15

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o Grito nas margens nada plácidas da história da História

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Vejam bem, senhoras e senhores, se o grito da Independência não foi bem assim como dizem aí a poucos metros das margens que eram plácidas no riacho Vermelho (no tupi-guarani, Ipiranga) dos campos de Piratininga, atual metrópole sulamericana de São Paulo; imaginem agora por onde anda a verdade na história da adesão da Amazônia ao Império do Brasil (outrora, chamada o Maranhão e Grão-Pará).

Vistos de longe, o Norte e Nordeste são aquelas distantes periferias - o grande sertão brasílico, rico por natureza porém bárbaro e pobre - conquistadas por heróis da pátria. De perto, é outra coisa. As antigas certezas não se sustentam, reina então uma amazônica confusão rodeada de dúvidas e desconhecimento. De todo modo, sem a marcha do Nordeste rumo ao Norte não haveria uma Amazônia brasileira na história. Mas, também é certo que o rio das "amazonas", tal qual uma enorme flor carnívora; abrindo-se à conquista da velha terra dos Tapuias a nativos e estrangeiros colocava-se a prêmio ditando o processo histórico. Desde cedo, antes mesmo do descobrimento do Brasil, se estabeleceu a complexa dialética amazônica de conquista e resistência entre o vasto mar e o grande sertão. Das tensões e contradições a cegas do processo de construção do território norte brasileiro inventou-se a Amazônia há quase 400 anos (1615/1615 - 2015/2016)... O primeiro grande choque entre nativos e colonizadores aconteceu em 7 de janeiro de 1619, com o levante geral dos Tupinambás do Pará liderados pelo cacique Guamiaba (Cabelo de Velha) reprimidos duramente e explorados até a extinção étnica e assimilação demográfica até a explosão da Cabanagem, em 7 de janeiro de 1835 a cabo das falsificações históricas e desengano da Adesão à Independência, de 1823. Na verdade, a manifestada vontade popular amazônida para a República federal brasileira a bordo da Confederação do Equador; dada erradamente nas páginas da historiografia nacional como rude "separatismo" pela burguesia intelectual do Império...

Resumo da ópera. Lá e cá eram duas colônias lusas separadas, ambas sob domínio da coroa da Inglaterra através da posse coadjuvante de Portugal na América, a viver e lutar para fazer dessas duas colônias ultramarinas uma pátria amada, mãe gentil, país do Futuro, República Federativa do Brasil. Vejam a matéria do jornal eletrônico Vermelho - www.vermelho.org.br

11 de Setembro de 2010 - 20h05

Rabelo: a independência, a verdade e o papel de Bonifácio

Existem muitos fatos de nossa história mal interpretados pela historiografia liberal, ainda hegemônica. Um bom exemplo desta visão está na forma como as coisas ocorreram de fato no dia 7 de setembro de 1822, data recém-comemorada esta semana em todo o país.

Por Renato Rabelo*


Cada vez mais se procura ocultar a verdadeiro papel do patriarca da independência, José Bonifácio. O que nos é vendido como uma “verdadeira festa”, onde o príncipe herdeiro da coroa portuguesa -- supostamente por uma questão de pura vontade particular -- proclamou nossa independência é na verdade a síntese de um longo processo histórico de lutas, avanços e revezes. Nosso processo de independência foi longo e cruento e teve suas origens mais remotas nos movimentos nativistas, como a revolta de Bequimão no Maranhão (1684), guerra dos emboabas (1707-1709) e a revolta de Felipe dos Santos em Minas Gerais (1720). Passou pela Inconfidência Mineira (1789), Conjuração Baiana (1799), Insurreição Pernambucana (1817), chegada da família real portuguesa (1808), a elevação do país à condição de Reino Unido (1815) e a decisão de D. Pedro em ficar no país (9 de janeiro).

O processo, também, não terminou no 7 de Setembro, como geralmente se pensa. Mesmo depois daquela data, o Brasil ainda não estava completamente libertado. No norte e nordeste do país, devido à forte influência portuguesa no comércio e junto à tropa, havia muita resistência em se separar de Portugal. Eclodiram, então, as chamadas guerras da independência na Bahia, Piauí e Maranhão. Ali foram mobilizados tantos homens quanto nas guerras de Independência ocorridas na América espanhola. A Bahia, depois de muita luta, tornou-se independente apenas em 2 de julho de 1823, o Maranhão no 28 de julho.

Para muitos patriotas a tarefa não estava completada. No trono ainda tínhamos um príncipe estrangeiro, que dividia sua fidelidade entre o Brasil e o pai que reinava em Portugal. Mesmo tendo abdicado ao trono português em favor de sua filha, continuava se interessando pelos problemas lusitanos. Existia uma preocupação real dos brasileiros quanto a uma possível recolonização do país.

Em 1831, depois de muitos conflitos sangrentos entre nacionalistas e portugueses nas ruas do Rio de Janeiro, D. Pedro I renunciou. Somente então foi, de fato, concluída a Independência do Brasil. Portanto, foram várias datas e vários personagens que se envolveram naquele conturbado processo, mas apenas alguns deles acabaram sendo destacados, selecionados, para compor o panteão dos fatos e heróis nacionais. O título de herói da Independência coube a D. Pedro I e o fato mais importante ficou sendo o grito dado às margens do Ipiranga: “Independência ou morte”. Esta escolha – nada casual - se encaixava perfeitamente aos interesses das elites brasileiras em busca de símbolos que melhor expressassem e servissem à sua dominação de classe. A Independência não se realizaria sem o pensamento e ação dos setores populares e radicais do independentismo, como Cipriano Barata.

É assim que vemos estes fatos e é desta forma – com uma visão materialista e dialética – que o PCdoB casa esta data com o nascedouro de nosso Primeiro Ciclo Civilizacional. O passo primário para a formação desta grande e portentosa nação que na atualidade joga papel de vanguarda na construção de um mundo multipolar, pacífico e menos assimétrico.

Mas qual a relação entre a formação desta respeitada nação e o nosso processo de independência? O pensamento liberal, utilizando o método linear, reto (daí a noção daqueles acontecimentos como uma “festa”) esconde o essencial daquele momento que é justamente a noção da necessidade de formação de um poderoso Estado Nacional brasileiro, senhor de seu destino. Daí, cada vez mais se procura ocultar a verdadeiro papel do patriarca da independência, José Bonifácio, e seu objetivo estratégico de construir um Estado capaz de dar cabo às demandas de um novo e grande território; dar cabo das demandas em prol da formação de uma nação industrial e livre da mão-de-obra escrava.

As lutas pela independência e o conceito de uma nação nascida diante da conjuntura da época e das elaborações de Bonifácio guardam grande sentido atual. Não é de somenos que a “censura branca” ao pensamento progressista de José Bonifácio – empreendida pelos liberais (agraristas ontem, monetaristas hoje) – tem estreita relação com o projeto neoliberal de proscrever o nosso desenvolvimento, liquidar com a nossa indústria e colocar o nosso país no passo da utilização de nossas “vantagens comparativas” em matéria de agricultura; em transformar o Brasil em eterno “celeiro do mundo”. Tratam-se de dois projetos de nação que se confrontam no decorrer de quase dois séculos. E o próprio “grito do Ipiranga” sinalizou a vitória momentânea dos setores progressistas do Brasil de então. É desta forma comparativa e histórica que procuramos enxergar as coisas.

À luz da atual quadra da luta de classes em nosso país, em que estes mesmos dois projetos voltam a se digladiar e cuja vitória de um dos dois campos determinará o futuro de nossa nação, é que me remeto a uma análise mais profunda dos fatos em torno do 7 de setembro de 1822.

*presidente nacional do PCdoB

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

piada do ano em Cachoeira e Ponta de Pedras, Marajó, Pará

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a folha miúda do capitão Alfredo Pereira, há dois anos, ditou moda aos grandãos "Jornal do Brasil" e NYT!

Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2010.
Jornal New York Times anuncia fim de sua edição impressa

Presidente do Conselho de Administração do informativo, um dos mais conceituados do planeta, afirmou que falta apenas definir a data da migração definitiva para plataformas digitais.

a Folha-Miúda e o pacto verde do cooperativismo

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desde 2007 e 2008, respectivamente, com o "Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó" (PLANO MARAJÓ)e o programa "Territórios da Cidadania - Marajó" uma ampla cooperação sem precedentes entre governos federal, estadual, municípios e sociedade civil está em curso no estuário Pará-Amazonas destinada a fazer acontecer as Metas do Milênio até 2015 em benefício da gente marajoara numa região insular dentre os piores IDH's do país.

mencionado como polo turístico, Marajó tem potencial ecoturístico de base comunitária para concorrer com mercados como Costa Rica, por exemplo. Todavia, para sair das maravilhas do potencial cantado em prosa e verso será preciso que as comunidades locais, em número em torno de 500, sejam amparadas pelo fomento através de atividades práticas de aprender fazendo. Para tanto há que se avançar nas ações do Projeto "Nossa Várzea" de regulariazação fundiária integradas a planos de manejo ambiental comunitário e a concluão do "Inventário Nacional de Referências Culturais - Marajó", com que podem ser formatados novos produtos para o mercado em economia solidária.

uma boa logomarca para estes produtos, casando natureza e cultura, poderia se inspirar numa árvore nativa típica da paisagem cultural marajoara. Antes do assoreamento e devastação da mata ciliar do Arari, na beira do rio em frente ao chalé de residência de meu avô Alfredo Pereira existiu um frondoso pé da árvore popularmente chamada Folha-Miúda, típica de mata ciliar na ilha do Marajó. O romancista Dalcídio Jurandir resgatou esta árvore nas suas memórias de infância, ele escreveu que gostaria de ser enterrado debaixo da velha árvore. Brincadeiras e imaginações ficaram na lembrança habitando a sombra da Folha-Miúda onde passarinhos e estrelas se confundiam no olhar do menino através das ramagens.

a que vem isto agora às letras virtuais da folha miúda que é esta imitação da gazetilha do capitão Alfredo (ou major Alberto no romanceiro dalcidiano)? É que o rio e o lago Arari pedem socorro e não há forças no mundo capaz de salvar o Arari e a grande ilha da foz do rio Amazonas sem cooperação e melhoria de vida das populações tradicionais da região, a "Criaturada grande de Dalcídio"... Uma sugestão para acelerar o cooperativismo na Amazônia Sustentável com foco na economia solidária.

Representantes da ACI-Américas propõem ações para o cooperativismo em Brasília

Participaram 15 representantes dos países que fazem parte da ACI-Américas.

A representação e a integração das cooperativas do continente americano foram discutidas esta semana, em Brasília (DF), na Reunião do Conselho de Administração Regional da ACI-Américas. O presidente Márcio Lopes de Freitas participou da mesa de discussão ao lado do presidente da ACI-Américas, Ramón Imperial e do diretor Geral, da instituição, Manuel Mariño. Participaram ainda 15 representantes dos países que fazem parte da ACI-Américas.

O ponto alto dos debates foi a Conferência Regional e Assembleia, que acontecem na Argentina, em novembro 2010 além do planejamento de ações para o ano de 2012, definido pela ONU como Ano Internacional das Cooperativas. Também foi avaliada pela Aliança Cooperativa Internacional para o continente americano a proposta da inserção de um novo princípio para o cooperativismo, que seria o 8º, com o tema preservação do meio ambiente.

“Há uma preocupação crescente do movimento cooperativista com respeito às questões ambientais. No último encontro geral que realizamos (em 2009, na cidade de Guadalajara, no México) os participantes decidiram criar o Pacto Verde Cooperativo e também sugeriram o novo princípio”, explica o diretor regional da ACI Américas, Manuel Mariño.

Em 2010 a Aliança Cooperativa Internacional para as Américas (ACI-Américas) comemora 20 anos de atuação. Funcionando desde então na cidade de San José, Costa Rica, a instituição promove o cooperativismo assessorando no apoio político, social e comercial das organizações que fazem parte do movimento. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) é uma das instituições parceiras e atualmente, Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB, é vice-presidente da ACI Américas.

fundo indígena: uma história sobre fundo preto e branco

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Fundo Indígena celebra pela 1ª vez na Europa sua Assembleia Geral


Graças à rede mundial de computadores aldeias indígenas, mocambos (quilombos) e comunidades cabocas estão se conectando devarinho à aldeia global, mas com grande vitalidade. Assim, não é sem espanto que índios descobrem coisas como, por exemplo, a existência de um fundo indígena criado em 1992 a cabo de estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1989; cuja assembleia geral reuniu-se na Europa este ano, pela primeira vez. Mas não a última em que os índios duvidam que são eles mesmos senhores da instituição inventada em seus nomes ou mais uma coisa de branco para os dominar como sempre.

Pela internet a "tribo" anaindi@yahoogrupos.com.br é uma amostra da surpresa que tal notícia vinda da Espanha causou. Participantes da rede perguntaram sobre quem representou os povos indígenas do Brasil nessa assembleia na Europa. Alguém diz que foram os índios Paulinho Pancararu e Sebastião Manchinéri, acrescentando que "o primeiro atualmente (é) um homem do Márcio (o Meira) e anteriormente um homem do ISA, o que é mais ou menos a mesma coisa, mas que tem sido, nos dois casos, um sujeito honesto, apesar das ligações políticas, digamos,peculiares...".

Sobre Manchinéri o informante demonstra desapreço dizendo que é a mesma pessoa "que quase afundou a Coica e saiu corrido de Quito; e
que por conta disso andava no ostracismo... Já voltou à ativa em função
de tão alta representação?... Ou essa é uma representação antiga da qual
a Coiab ou Apib se esqueceram de apeá-lo?".

Comentários auto explicativos do atual estágio de emergência de antigos povos e populações marginalizados e suas contradições entre grupos e etnias e das organizações destes e o mundo envolvente, dito "civilizado". Na verdade, para o bem e o mal, os povos "de cor" estão ficando cada vez mais parecidos com os cara pálidas. Não há dúvida porém que, se pudessem, os conquistadores europeus teriam exterminado até o último índio e escravizado mais negros do que fizeram.

A madre Europa desde o começo da história latino-americana, com depoimento do dominicano Bartolomeu de Las Casas para o todo e sempre, já se dividia, esquizofrenicamente, entre destruir e proteger o Índio. O homem americano original assim apelidado pelo famoso equívoco cartográfico de Colombo, que por tanto se repetir ficou valendo mais que a existência real de milhões de mayas, incas, astecas e outras nações menos votadas e fadadas à extinção face à civilização cristã avassaladora, tais como os lucayos (da ilha Guaanani, a primeira vítima desta história e atual Bahamas, famosa pelos piratas outrora e agora pelo paraíso fiscal), e outros como os tainos de Cuba, Porto Rico e Jamaica...

O mais trágico destes "índios" extintos é que muitos deles, assimilados ou simplesmente mestiçados; perderam a noção da história e passaram a imitar os brancos custe o que custar... Ora, vê-se agora na mudança climática e na crise global da civilização industrial, que em vez de branquizar os índios, negros e asiáticos era mais negócio indianizar os brancos.

segunda descoberta das Américas

Segundo site do Fundo, os delegados credenciados para representar o Brasil foram dois:

DELEGADO GOBERNAMENTAL TITULAR
Dr. Paulo Celso de Oliveira
Defesa dos Direitos Indígenas, CGDDI

DELEGADO INDIGENA TITULAR

Sebastiao Haji Alves Rodrigues
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, COIAB.

Procurando informação sobre o assunto, uma participante escreve: "me parece que tem um servidor indigena da FUNAI atual que representa o governo neste Fondo indigena inclusive participou desta ultima reuniao na espanha de 7 a 11 de setembro, mas vou checar ainda pra confirmar, ou seja, representando o governo."


Outro responde: "Estou pesquisando ... Olhem o que achei":

DAI - Divisão de Atos Internacionais

A Divisão de Atos Internacionais é uma das três divisões do Departamento
de Imigração e Assuntos Jurídicos (DIJ).

Endereço:
Anexo I do Ministério das Relações Exteriores,
4º andar, sala 421 - CEP: 70170-900

Telefone: (61) 3411-8672 Fax: (61) 3411-6905

E-mail: dai@mre.gov.br Chefe: Conselheiro Alessandro Candeas

Subchefe: Primeiro Secretário Byron Amaral dos Santos

http://www2.mre.gov.br/dai/home.htm <<====Vejam neste site Divisão de Atos Internacionais ACORDO CONSTITUTIVO DO FUNDO PARA O DESENVOLVIMENTO DOS POVOS INDÍGENAS DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE As Altas Partes Contratantes: Convocadas na cidade de Madri, Espanha, por ocasião da Segunda Reunião de Cúpula dos Estados Ibero-Americanos, em 24 de julho de 1992; Recordando os termos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos; Considerando as normas internacionais enunciadas no Convênio da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos Indígenas e Tribais, adotado pela Conferência Internacional do Trabalho em 1989; Adotam, na presença de representantes de povos indígenas da região, o seguinte Acordo Constitutivo do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe: Artigo 1 Objetivos e Funções 1.1 Objetivo: O Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (doravante "Fundo Indígena") tem por objetivo estabelecer um mecanismo destinado a apoiar os processos de autodesenvolvimento de povos, comunidades e organizações indígenas da América Latina e do Caribe (doravante "Povos Indígenas"). A expressão "Povos Indígenas" compreenderá os povos indà­genas descendentes de populações que habitavam o país ou a região geográfica à qual pertence o país na época da conquista ou da colonização ou do estabelecimento das atuais fronteiras e que, qualquer que seja sua situação jurídica, conservam todas as suas instituições sociais, econômicas, culturais e políticas próprias, ou parte delas. Além disso, a consciência de sua identidade indígena será considerada um critério fundamental para determinar os grupos aos quais se aplicam as disposições do presente Acordo Constitutivo. A utilização do termo Povos neste Acordo não deverá ser interpretada no sentido de qualquer implicação no que se refere aos direitos que lhe possam ser conferidos no Direito Internacional. 1.2 Funções: Para alcançar o objetivo enunciado no parágrafo 1.1 deste Artigo, o Fundo Indígena terá as seguintes funà§ões básicas: a) proporcionar uma instância de diálogo para obter a formulaà§ão coordenada de políticas de desenvolvimento, operaçàµes assistência técnica, programas e projetos de interesse para os Povos Indígenas, com a participação dos Governos dos Estados da região, Governos de outros Estados, organismos fornecedores de recursos e os próprios Povos Indígenas; b) canalizar recursos financeiros e técnicos para os projetos e os programas prioritários coordenados com os Povos Indígenas, assegurando que contribuam para criar as condições para o autodesenvolvimento desses Povos; c) proporcionar recursos de capacitação e assistência tà©cnica para apoiar o fortalecimento institucional, a capacidade de gestão, a formação de recursos humanos, de informação e de pesquisa dos Povos Indígenas e de suas organizações. Artigo 2 Membros e Recursos 2.1 Membros: Serão Membros do Fundo Indígena os Estados que depositarem na Secretaria-Geral da Organização das Nações Unidas o instrumento de ratificação, de conformidade com seus requisitos constitucionais internos e com o parágrafo 14.1 do Artigo 14 deste Acordo. 2.2 Recursos: Constituirão recursos do Fundo Indígena as Contribuições dos Estados-Membros, aportes de outros Estados, organismos multilaterais, bilaterais e nacionais de caráter público ou privado e doadores institucionais, bem como a renda líquida gerada pelas atividades e investimentos do Fundo Indígena. 2.3 Instrumentos de Contribuição: Os Instrumentos de Contribuià§ão serão protocolos assinados por cada Estado-Membro para estabelecer seus respectivos compromissos de fornecer ao Fundo Indígena recursos para a composição do patrimônio desse Fundo, de conformidade com o parágrafo 2.4. Outros aportes serão regidos pelo quinto Artigo deste Acordo. 2.4 Natureza das Contribuições: As Contribuições ao Fundo Indígena poderão ser efetuadas em divisas, moeda local, assistência técnica e espécie, conforme os regulamentos aprovados pela Assembléia-Geral. As Contribuições em moeda local estarão sujeitas a condições de manutenção de valor e taxa de câmbio. Artigo 3 Estrutura Organizacional 3.1 Órgãos do Fundo Indígena: São órgãos do Fundo Indígena a Assembléia-Geral e o Conselho Diretivo. 3.2 Assembléia-Geral: a) Composição: A Assembléia-Geral estará composta de: I) um delegado credenciado pelo Governo de cada um dos Estados-Membros; e II) um delegado dos Povos Indígenas de cada Estado da região Membro do Fundo Indígena, credenciado por seu respectivo Governo, após consultas efetuadas junto às organizações indígenas desse Estado. b) Decisões: I) as decisões serão tomadas pela unanimidade dos votos afirmativos dos delegados dos Estados da região Membros do Fundo Indígena, bem como pela maioria dos votos afirmativos dos representantes de outros Estados-Membros e pela maioria dos votos afirmativos dos delegados dos Povos Indígenas; II) em assuntos que afetem os Povos Indígenas de um ou mais países, será necessário o voto afirmativo de seus delegados. c) Regulamento: A Assembléia-Geral aprovará seu Regulamento e outras normas que considere necessárias para o funcionamento do Fundo Indígena. d) Funções: As funções da Assembléia-Geral incluem, entre outras: I) formular a política geral do Fundo Indígena e adotar as medidas necessárias para a consecução de seus objetivos; II) aprovar os critérios básicos para a elaboração dos planos, projetos e programas a serem apoiados pelo Fundo Indígena; III) aprovar a condição de Membro, conforme as disposiçàµes deste Acordo e as regras estabelecidas pela Assembléia-Geral; IV) aprovar o programa, o orçamento anual e as prestações de contas periódicas dos recursos do Fundo Indígena; V) eleger os Membros do Conselho Diretivo a que se refere o parágrafo 3.3 e delegar a esse Conselho as faculdades necessárias para o funcionamento do Fundo Indígena; VI) aprovar a estrutura técnica e administrativa do Fundo Indígena e nomear o Secretário Técnico; VII) aprovar acordos especiais para possibilitar a Estados que não sejam membros, assim como a organizações públicas e privadas, que cooperem com o Fundo Indígena ou dele participem; VIII) aprovar eventuais modificações do Acordo Constitutivo e submetê-las à ratificação dos Estados-Membros, quando for necessária; IX) terminar as operações do Fundo Indígena e nomear liquidantes. e) Reuniões: A Assembléia-Geral se reunirá ordinariamente uma vez por ano e extraordinariamente quantas vezes forem necessárias, por iniciativa própria ou a pedido do Conselho Diretivo, de acordo com os procedimentos estabelecidos no regulamento da Assembléia-Geral. 3.3 Conselho Diretivo: a) Composição: O Conselho Diretivo será composto de nove membros eleitos pela Assembléia-Geral que representem em partes iguais os Governos dos Estados da região Membros do Fundo Indígena, os Povos Indígenas desses Estados-Membros e os Governos dos outros Estados-Membros. O mandato dos Membros do Conselho Diretivo será de dois anos, devendo-se procurar sua alternância. b) Decisões: I) as decisões serão tomadas pela unanimidade dos votos afirmativos dos delegados dos Estados da região Membros do Fundo Indígena, bem como pela maioria dos votos afirmativos dos representantes de outros Estados-Membros e pela maioria dos votos afirmativos dos delegados dos Povos Indígenas; II) as decisões do Conselho Diretivo que envolvam um determinado paà­s requererão também, para sua validade, a aprovação do Governo do Estado de que se trate e do Povo Indígena beneficiário, por meio dos mecanismos mais apropriados. c) Funções: De conformidade com as normas, regulamentos e orientações aprovados pela Assembléia-Geral, são funçàµes do Conselho Diretivo: I) propor à Assembléia-Geral os regulamentos e as normas complementares para o cumprimento dos objetivos do Fundo Indígena, inclusive o regulamento do Conselho; II) designar entre seus Membros o Presidente, mediante os mecanismos de voto estabelecidos no item 3.3(b); III) adotar as disposições necessárias para o cumprimento deste Acordo e das decisões da Assembléia-Geral; IV) avaliar as necessidades técnicas e administrativas do Fundo Indà­gena e propor as medidas correspondentes à Assembléia-Geral; V) administrar os recursos do Fundo Indígena e autorizar a contrataà§ão de créditos; VI) submeter à consideração da Assembléia-Geral as propostas de programa e de orçamento anuais e as prestações de contas periódicas dos recursos do Fundo Indígena; VII) considerar e aprovar programas e projetos qualificados para receber o apoio do Fundo Indígena, conforme seus objetivos e regulamentos; VIII) promover ou prestar assistência técnica e apoio necessà¡rio para a preparação dos projetos e programas; IX) promover e estabelecer mecanismos de coordenação entre os Membros do Fundo Indígena, entidades cooperantes e beneficiários; X) propor à Assembléia-Geral a nomeação do Secretário Técnico do Fundo Indígena; XI) suspender temporariamente as operações do Fundo Indígena até que a Assembléia-Geral tenha a oportunidade de examinar a situação e tomar as medidas pertinentes; XII) exercer as demais atribuições que lhe confere este Acordo e as funções que lhe sejam atribuídas pela Assembléia-Geral. d) Reuniões: O Conselho Diretivo se reunirá pelo menos três vezes ao ano, em abril, agosto e dezembro, e extraordinariamente quando considere necessário. Artigo 4 Administração 4.1 Estrutura Técnica e Administrativa: a) A Assembléia-Geral e o Conselho Diretivo determinarão e estabelecerão a estrutura de gestão técnica e administrativa do Fundo Indígena, de acordo com os artigos 3.2 (d) (VI) e 3.3 (c) (IV) e (X) . Essa estrutura, doravante denominada Secretariado Técnico, serà¡ integrada por pessoal altamente qualificado em termos de formaçà£o profissional e experiência, cujo número não excederà¡ a 10 funcionários, seis profissionais e quatro administrativos. As necessidades adicionais de pessoal para projetos poderão ser atendidas mediante a contratação de pessoal temporário. b) Se o considerar necessário, a Assembléia-Geral poderá ampliar ou modificar a composição do Secretário Técnico. c) O Secretário Técnico funcionará sob a direção de um Secretário Técnico designado de conformidade com as disposições mencionadas na alínea ( a ) precedente. 4.2 Contratos de Administração: A Assembléia-Geral poderà¡ autorizar a assinatura de contratos de administração com entidades que contem com os recursos e a experiência necessários para efetuar a gestão técnica, financeira e administrativa dos recursos e das atividades do Fundo Indígena. Artigo 5 Entidades Cooperantes 5.1 Cooperação com Entidades que não sejam Membros do Fundo Indígena: O Fundo Indígena poderá assinar contratos especiais, aprovados pela Assembléia-Geral, para possibilitar aos Estados que não sejam Membros, bem como às organizações locais, nacionais e internacionais, públicas e privadas, que contribuam com o patrimônio do Fundo Indígena e que participem de suas atividades, ou ambos. Artigo 6 Operaçõ es e Atividades 6.1 Organização das Operações: O Fundo Indígena organizará suas operações mediante uma classificação por áreas de programas e de projetos, para facilitar a concentraà§ão de esforços administrativos e financeiros e a programaà§ão por meio de gestões periódicas de recursos, que permitam o cumprimento dos objetivos concretos do Fundo Indígena. 6.2 Beneficiários: Os programas e os projetos apoiados pelo Fundo Indígena beneficiarão direta e exclusivamente os Povos Indígenas dos Estados da América Latina e do Caribe que sejam Membros do Fundo Indígena ou tenham assinado um acordo especial com o Fundo para permitir a participação dos Povos Indígenas de seu país nas atividades do mesmo, de acordo com o Artigo 5. 6.3 Critérios de Qualificação e Prioridade: A Assembléia-Geral adotará critérios específicos que permitam, de maneira interdependente e considerando a diversidade dos beneficiários, determinar a qualificação dos solicitantes e beneficiários das operações do Fundo Indígena e estabelecer a prioridade dos programas e projetos. 6.4 Condições de Financiamento: a) Considerando as características diversas e particulares dos eventuais beneficiários dos programas e projetos, a Assembléia-Geral estabelecerá parâmetros flexíveis a serem utilizados pelo Conselho Diretivo para determinar as modalidades de financiamento e para estabelecer as condições de execução de cada programa e projeto em consulta com os interessados. b) De acordo com esses critérios, o Fundo Indígena concederá recursos não-reembolsáveis, créditos, garantias e outras modalidades apropriadas de financiamento. Artigo 7 Avaliação e Acompanhamento 7.1 Avaliação do Fundo Indígena: A Assembléia-Geral avaliará periodicamente o funcionamento do Fundo Indígena em seu conjunto, de acordo com os critérios e meios que considere adequados. 7.2 Avaliação dos Programas e Projetos: A execução dos programas e dos projetos será avaliada pelo Conselho Diretivo, considerando especialmente os pedidos apresentados pelos beneficiários dos mencionados programas e projetos. Artigo 8 Retirada de Membros 8.1 Direito de Retirada: Qualquer Estado-Membro poderá retirar-se do Fundo Indígena mediante comunicação escrita dirigida ao Presidente do Conselho Diretivo, que notificará à Secretaria-Geral da Organização das Nações Unidas. A retirada terá efeito definitivo um ano após a data em que se tenha recebido a notificação. 8.2 Liquidação de Contas: a) as Contribuições dos Estados-Membros ao Fundo Indígena não serão devolvidas em caso de retirada do Estado-Membro; b) O Estado-Membro que se tenha retirado do Fundo Indígena continuará sendo responsável pelas quantias devidas ao Fundo Indígena e pelas obrigações assumidas com o mesmo antes do término de suas condições de Membro. Artigo 9 Término das Operações 9.1 Término das Operações: O Fundo Indígena poderá terminar suas operações por decisão da Assembléia-Geral que nomeará liquidantes e determinará o pagamento de dívidas e a distribuição dos ativos de maneira proporcional entre seus Membros. Artigo 10 Situação Jurídica 10.1 Situação Jurídica: a) O Fundo Indígena terá personalidade jurídica e plena capacidade para: I) celebrar contratos; II) adquirir e alienar bens móveis e imóveis; III) aceitar e conceder empréstimos e doações, dar garantias, comprar e vender valores, investir fundos não comprometidos em suas operações e realizar transações financeiras necessà¡rias para o cumprimento de seu objetivo e suas funções; IV) iniciar procedimentos judiciais ou administrativos e comparecer em juízo; V) realizar todas as demais ações necessárias para a execução de suas funções e o cumprimento dos objetivos deste Acordo. b) O Fundo deverá exercer essa capacidade de conformidade com os requisitos legais do Estado Membro em cujo território realize suas operaà§ões e atividades. Artigo 11 Imunidades, Isenções e Privilégios 11.1 Concessão de Imunidades: Os Estados-Membros adotarão, de acordo com seu regime jurídico, as disposições necessárias a fim de conferir ao Fundo Indígena imunidades, isenções e privilégios necessários para o cumprimento de seus objetivos e a realização de suas funções. Artigo 12 Modificações 12.1 Modificação do Acordo: O presente Acordo só poderá ser modificado por aprovação unânime da Assembléia-Geral, sujeita, quando necessária, à ratificação dos Estados-Membros. Artigo 13 Disposições Gerais 13.1 Sede do Fundo: O Fundo Indígena terá sua sede na cidade de La Paz, Bolívia. 13.2 Depositários: Cada Estado-Membro designará seu Banco Central como depositário para que o Fundo Indígena possa manter suas disponibilidades na moeda desse Estado-Membro e outros ativos da instituià§ão. Se o Estado-Membro não tiver Banco Central, deverá designar, de acordo com o Fundo Indígena, outra instituição para esse fim. Artigo 14 Disposições Finais 14.1 Assinatura e Aceitação: O presente Acordo será depositado na Secretaria-Geral da Organização das Nações Unidas, onde permanecerá aberto para a assinatura dos representantes dos Governos dos Estados da região e de outros Estados que desejem ser Membros do Fundo Indígena. 14.2 Entrada em Vigor: O presente Acordo entrará em vigor quando o instrumento de ratificação tenha sido depositado conforme o parà¡grafo 14.1 deste Artigo, pelo menos por três Estados da região. 14.3 Denúncia: Todo Membro que tenha ratificado este Acordo poderà¡ denunciá-lo mediante notificação dirigida ao Secretà¡rio-Geral da Organização das Nações Unidas. A denàºncia somente terá efeito um ano depois da data de seu registro. 14.4 Início das Operações: a) O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas convocará a primeira reunião da Assembléia-Geral do Fundo Indígena tão logo este Acordo entre em vigor, conforme o parágrafo14.2. b) Em sua primeira reunião, a Assembléia-Geral adotará as medidas necessárias para a designação do Conselho Diretivo, conforme dispõe a alínea 3.3 (a) do Artigo 3º, e para a determinação da data em que o Fundo Indígena iniciará suas operações. Artigo 15 Disposições Transitórias 15.1 Comitê Interino: Desde que o presente Acordo seja firmado por cinco Estados da região, e sem que isso gere obrigações para os Estados que não o tenham ratificado, será estabelecido um Comitê Interino com funções e composição similares à s descritas relativamente ao Conselho Diretivo no parágrafo 3.3 do Artigo 3 deste Acordo. 15.2 Sob a direção do Comitê Interino, será formado um Secretariado Técnico com as características indicadas no parà¡grafo 4.1 do Artigo 4 do presente Acordo. 15.3 As atividades do Comitê Interino e do Secretariado Técnico serão financiadas mediante contribuições voluntárias dos Estados que tenham assinado este Acordo, bem como mediante contribuições de outros Estados e entidades, por meio de cooperação técnica e outras formas de assistência que os Estados e outras entidades possam obter junto a organizações internacionais. Feito na cidade de Madri, Espanha, em apenas um original, datado de 24 de julho de 1992, cujos textos em espanhol, português e inglês são igualmente autênticos. ================== "Quem representa o Brasil neste evento?", alguém pergunta. Outro responde, "O Fundo Indígena é uma instituição bastante controversa!" Fundo Indígena celebra pela 1ª vez na Europa sua Assembleia Geral
09 de setembro de 2010

Os 22 países participantes do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe, entre eles o Brasil, promoveram hoje em Madri sua 9ª Assembleia Geral, a primeira que se desenvolve na Europa, na qual serão estudados os avanços dos dois últimos anos e planejadas novas políticas e estratégias.

A rainha Sofia da Espanha, o ministro de Assuntos Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, e a secretária de Cooperação espanhola, Soraya Rodríguez, inauguraram a reunião, que se desenrolará nos próximos dois dias na Casa de América em Madri. O secretário-geral ibero-americano, Enrique Iglesias, também participou da reunião.

A cerimônia começou com as palavras de boas-vindas do presidente do Fundo, Luis Evelis Andrade, quem deu passagem depois a uma tradicional cerimônia indígena de invocação à terra-mãe. Moratinos assinalou a importância de dar voz às comunidades indígenas e lembrou o apoio que a Espanha realiza por meio da cooperaà§ão com as distintas associações
distribuídas por toda a América Latina.

Argentina, Belize, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela estão presentes nesta 9ª Assembleia.
Com o imperativo ético de superar o acumulado déficit histórico em que se encontram os Povos Indígenas da América Latina e do Caribe, o Fundo Indígena foi criado na 2ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo realizada em Madri em 1992.

Agência EFE

congresso brasileiro do cooperativismo

XIII Congresso Brasileiro do Cooperativismo será transmitido pela web
Além das palestras e painéis previstos no evento, a grade de programação contemplará entrevistas com líderes cooperativistas

A segunda fase do XIII Congresso Brasileiro do Cooperativismo, que começa hoje (9/9), logo mais às 19h, em Brasília (DF), será transmitida em som e imagem pelo portal www.brasilcooperativo.coop.br. Além das palestras e painéis previstos no evento, a grade de programação contemplará entrevistas com líderes cooperativistas de todo o País, na tarde de sexta-feira (10/9) e na manhã de sábado (11/9).

A transmissão será encerrada por volta das 12h, do último dia do Congresso (11/9), com uma avaliação das discussões feita pelo presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

papel de jornal

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O jornalismo de simulacros

Por Washington Araújo, do Observatório da Imprensa




– Que é a verdade? – disse zombando Pilatos e não esperou pela resposta.

Assim começa Bacon seu Ensaio sobre a Verdade. E Pilatos tinha mesmo razão em não esperar pela resposta: as duas correntes filosóficas dominantes na época – o Epicurismo e a doutrina da Nova Academia – concluíam pela não existência de uma resposta plausível para a questão. Os séculos passaram e encontramos, resistindo ao tempo, a confissão súplice e ardente de Santo Agostinho: "Ó Verdade, Verdade! Quanto intimamente suspiram por ti as medulas de minha alma!" E faltam muitos devotos de Agostinho em nossas redações.

O jornalismo brasileiro que já não era muito assertivo terminou a semana passada vestido em forma de grande ponto de interrogação. Aquela coisa improdutiva e entediante de investigar antes de publicar a matéria foi solenemente escanteada. Estamos sob o império do "grande Se", sob o domínio do "achismo" desde as coisas mais banais até às mais importantes para o país.

Às favas com a busca da verdade, com as declarações de princípios a invocar reiteradas vezes um simulacro de isenção, imparcialidade, busca incessante pela objetividade jornalística. É como se as primeiras páginas dos jornais, seus espaços nobres e vistosos se transformassem do dia para a noite em editoriais alagadiços, transbordando de uma seção a outra, de uma editoria a outra, irrompendo em colunas de notas políticas, avançando por sobre o colunismo social e até mesmo impregnando o espaço dos leitores com a opinião amplamente expostos em cataclísmicos editoriais e repercutidos ao longo da edição. Ufa! Mas não fica por aí: essa semana teve até o vazamento do áudio do apresentador do Jornal da Globo, William Waack, em que mandava Dilma Rousseff calar a boca.

Atos sórdidos

Há poucos dias tratei neste Observatório da angústia irreprimida da grande mídia pelos tais fatos novos, algo que realmente pudesse quebrar a espinha dorsal da continuidade política que vem se desenhando no horizonte, embalada que é por resultados de pesquisas de opinião praticamente unânimes. E, na falta de fatos novos, vamos de fatos velhos mesmos – afinal, se potencializa isso e aquilo, monta-se imensa colcha de retalhos com restos de escândalos antigos, menos antigos e relativamente novos e, quem sabe?, teremos algo que responda prontamente ao se procurar por seu nome: "Fato novo! Venha aqui! É pra você, fato novo!"

E assim tem sido com o chamado caso da violação do sigilo fiscal de cinco personalidades ligadas ao PSDB, sendo uma a filha do candidato José Serra e também um primo da mulher do candidato. Descobriu-se no mesmo par de dias que foram quebrados os sigilos fiscais de outras 315 pessoas, incluindo-se na numerosa lista o empresário Samuel Klein, dono da Casa Bahia e a da apresentadora da TV Globo, Ana Maria Braga.

O estardalhaço, como previsível, tem seu foco nas figuras do mundo político. É sobre essas cinco pessoas que tanta tinta é gasta, tanto papel é impresso, tanto espaço midiático é concedido e estendido até não mais poder. Quanto aos demais 315, que bem podem ser cinco centenas e meia de pessoas, a indignação não é suficiente para preencher o espaço de nota de rodapé. Tal é a realidade com que nos defrontamos.

Os inquéritos estão todos engatinhando, mas as sentenças finais já foram proferidas há bastante tempo pelos tribunais encastelados em nossas principais redações de jornais, emissoras de rádio e de tevê. A sentença que vem sendo propalada apresenta muitas variações para a não mais que duas conclusões:

1. Os sigilos fiscais das cinco personalidades ligadas ao PSDB foram deliberadamente quebrados com o intuito de favorecer a campanha presidencial de Dilma Rousseff, fazê-la avançar nas pesquisas de opinião pública e, concomitantemente, prejudicar a postulação presidencial de José Serra;

2. Estes atos sórdidos e cafajestes foram adredemente pensados, planejados e executados com conhecimento e aquiescência do comitê que coordena a campanha governista.

Uma coisa ou outra

O que falta é a prática daquilo que atendia pelo nome de bom jornalismo. O caso atual seguirá aos anais da crônica política brasileira como aquele em que a grande imprensa privilegiou a cobertura por ela mesma proferida para o caso, e seu poder imenso para relatar o necessário e indispensável processo de investigação que caso de tal monta continua a ensejar. E são muitos, numerosos, os fios desencapados nas repartições da Receita Federal em Mauá e em Santo André, municípios da grande São Paulo. Um roteiro minimamente razoável poderia ser seguido por jornalistas não-togados para desvendar o cipoal de contradições que o caso apresenta. Se perguntado por algum estudante de jornalismo não hesitaria em prescrever os seguintes passos:

** Refletir sobre o caso em si. É grave? Sim, gravíssimo. E a potencialização pela grande imprensa não seria menos grave. Não é papel da imprensa partidarizar o objeto de sua cobertura. E no presente caso é exatamente isso o que ocorre: as manchetes da manhã seguem direto para a propaganda política do principal beneficiário do affair.

** Há que se retroceder na agenda política do Brasil a setembro de 2009. Estabelecer com o distanciamento crítico possível qual era o quadro político nacional de então: Aécio Neves estaria descartado da indicação tucana para concorrer à presidência da República? Se não, por que algum familiar do então governador mineiro não teve seu sigilo fiscal violado?

** Conceder o benefício da dúvida antes de convocar o pelotão de fuzilamento. Há que se responder objetivamente a algumas questões elementares: e se Dilma Rousseff for completamente inocente? E se o seu partido não tiver qualquer participação com a violação dos sigilos? E se o assunto estiver mesmo restrito à esfera penal e não à esfera político-eleitoral?

** Há que se refletir sobre a ação do PSDB junto ao TSE visando cassar o registro da candidatura governista. Tal ação demonstrou o elevado grau de belicosidade que se busca injetar em uma campanha com tudo para ser modorrenta. Do início ao fim. E recebeu até nome: "Ação Bala de Prata". Não fosse a firmeza combinada com a serenidade do ministro do TSE Aldir Passarinho e teríamos o país de pernas pro ar. Não se publicou qualquer análise minimamente aprofundada sobre as implicações de tal investida oposicionista.

** Há que se levantar também o outro lado dessa história. A começar por esta singela questão: e se a gestação do atual escândalo foi premeditada, planejado com bastante antecedência para surgir como fato novo com poder de fogo capaz de levar a eleição do primeiro para o segundo turno?

** Há que se buscar a motivação da candidata governista ao desejar – ainda em setembro de 2009 – recolher de forma ilegal, e flagrantemente criminosa, informações contidas na declaração de renda de Verônica Serra, a filha do então governador paulista José Serra.

** Há que se descobrir a motivação para bisbilhotar o sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB e de outros quadros do partido. O mesmo quando apresentadora Ana Maria Braga e o empresário Samuel Klein.

** Há que se notar que, no caso específico da quebra do sigilo de Verônica Serra, surgiu uma procuração falsificada da primeira à última letra e que tem como personagem central o hoje notório contador Antonio Carlos Atella. Notícias dão conta que o personagem carrega consigo perfil inequívoco do clássico estelionatário. Afinal trata-se de cidadão que chegou a possuir não apenas um CPF, mas cinco CPFs e que, sem papas na língua, pretende vender por bom dinheiro informações sobre seu modus operandi e, em suas palavras, "com essa estória vou me arrumar". Seria importante levantar a vida pregressa do atilado contador, vasculhar seus computadores, devassar sua vida profissional sempre com o devido respaldo legal.

** Projetar o presente caso no futuro buscando um padrão. Por exemplo, analisar sobre que ações poderiam proteger a sociedade brasileira da ação de delinqüentes interessados em turvar o processo eleitoral.

Uma coisa é certa: ou a imprensa se contenta em ser imprensa ou então desiste disso e funda uma agremiação política. Diretrizes partidárias não faltariam, a começar pela visceral defesa da liberdade de prensa, de imprensa, de empresa. O desafio seria saber delimitar uma de outra.



(Envolverde/Observatório da Imprensa)



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