blog em memória da gazetilha que "circulou na cidade de Cachoeira do Arari (ilha de Marajó, Estado do Pará) no biênio 1906 / 1907. Fôlha pequena, a 3 colunas. Redigido por Alfredo N. Pereira." (cf. Carlos Rocque, "Grande Enciclopédia da Amazônia"). O editor era meu avô paterno, usava tipográfica manual no Chalé celebrizado nos romances de Dalcídio Jurandir, notadamente "Chove nos campos de Cachoeira" e "Três casas e um rio".

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

viagem ao interior da Terra

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O historiador e folclorista Fernando Silva, editor de "A Voz de Torcena", Barcarena (Portugal), correspondente amigo desta folha miúda virtual; nos traz à reflexão o drama e salvamento dos 33 mineiros de São José do Atacama (Chile). O autor tem um excelente trabalho sobre a história social da sua terra onde as tragédias do mundo de camponeses e operários faz a ronda. A Fábrica da Pólvora, em Oeiras, por exemplo é sua especialidade. Como o nosso Dalcídio Jurandir no romance proletário "Linha do Parque" as relações de produção e consumo estão subjacentes na obra pouco conhecida de Fernando Silva, um amigo do Marajó em Portugal. Adiante se vê a lavra do amigo que extrai da dura realidade do trabalho o espírito da terra para as altas produções da cultura.

Fernando Silva
A propósito do resgate dos 33 mineiros chilenos

AFINAL AQUI ESTÁ A “VIAGEM AO CENTRO DA TERRA” DE JÚLIO VERNE

Não foi como o disciplinado cientista e professor, Lidenbrock que em Hamburgo, na Alemanha, encontrou no interior de um livro antigo, um indecifrável manuscrito que o seu sobrinho Axel conseguiu decifrar, nem mais, nem menos que uma revelação bombástica do cientista islandês Arne Saknussemm, dando conta de um caminho que o levaria ao centro da terra, através do extinto vulcão Sneffels, expedição que acabaria por ficar célebre na imaginação de um dos grandes escritores do passado, Júlio Verne.
O que ocorreu em Agosto passado, que arrepiou o mundo inteiro, não teve cenário na Alemanha, nem foi mais nenhuma ficção concebida por aquele escritor, mas sim passado no continente americano, onde uma sábia equipa de cientistas conseguiu montar um bem estudado estratagema para levar ao fundo daquela infernal mina, a já famosa “Fénix II”, quase ao centro da terra, a cápsula salvadora que havia de transportar com êxito as trinta e três almas que ali tinham ficado subterradas.
O mundo inteiro esteve de olhos postos naquele local, mais propriamente nas Minas de S. José onde se encontravam os infelizes mineiros, subterrados.
Mas o mais importante neste desastre que já é considerado o mais relevante deste século, foi a alta solidariedade que todo o mundo prestou a esta gente, que só foi salva graças a uma simples, mas importantíssima mensagem de um mineiro, que teve a sorte de chegar ao cimo da terra e dar ânimo a quem a apanhou, lendo com emoção que os 33 homens estavam vivos.
Se não fosse isso, naturalmente já estariam todos mortos, levados pelo desespero, pela loucura e afinal pela terrível situação em que se encontravam no fundo da mina, depois de bloqueadas todas as saídas possíveis.
A operação de salvamento e resgate daqueles martirizados seres que estiveram sessenta e nove dias ali metidos, a 622 metros de profundidade, esteve em curso durante pouco mais de vinte e quatro horas e começou com êxito, trazendo o primeiro homem, o capataz daquele grupo, Florêncio Ávalos de 31 anos de idade, eram precisamente 4 horas e 11 minutos do dia 13 de Outubro de 2010.
A cápsula encontrou alguns problemas que prontamente foram reparados, contudo houve muita expectativa, no sentido de se saber se tudo iria correr bem até ao fim da difícil operação para que todos regressassem a salvo.
As pessoas acordaram de noite com o sentido de saber novidades e na realidade, embora não tivesse acontecido no nosso país, foi uma operação que mexeu com toda a gente, porque ninguém poderá avaliar o que foi a vida daqueles infelizes, mas que foi muito dura, que ninguém tenha a menor dúvida e naquela hora final de resgate, ainda muito mais, porque o grau de ansiedade dos que lá ficavam, vendo o companheiro partir, deveria ser enorme, pois todos, obviamente, pretendiam verem-se livres daquele inferno, o mais rapidamente possível e as horas pareciam nunca mais passarem.
De qualquer forma é de louvar a solidariedade que se concentrou em redor deste acidente, pois todo o mundo se manifestou no sentido de apoiar aquelas trinta e três criaturas e a grande verdade é que, após se confirmar que o êxito tinha sido alcançado, houve muito desespero, ansiedade e precaução para que tudo decorresse da melhor forma, como afinal, felizmente acabou por suceder.
Foi um regresso feliz, na difícil “viagem ao centro da terra”, parecendo quase uma das imortais histórias do grande escritor Júlio Verne, experiência que, se tivesse acontecido na sua época bem ilustrava as suas aventuras, sustentando ainda mais a sua fértil imaginação.
Este regresso dos mineiros foi acautelado, devido ao encontro com a luz do dia, mas ninguém se preocupou com possíveis problemas contraídos e a emoção foi grande junto dos seus incansáveis salvadores que tanto se sacrificaram para que o êxito resultasse, os familiares e os amigos e afinal o mundo inteiro, foram momentos de grande emoção, onde não houve ninguém que não chorasse de alegria, porque na realidade foi um verdadeiro milagre que se registou .
Os mais agarrados à religião, não hesitaram em afirmar que tudo aconteceu a treze de Outubro, data em que, Portugal terá registado mais uma aparição de Nossa Senhora de Fátima, aos pastorinhos, no difícil ano de 1917.
Também nesta área é preciso acreditar, nem que seja a última a recorrer pelo ser humano, mas a verdade, crente ou não, os mineiros acabaram por ser salvos num dia bastante querido para a comunidade cristã.
Este desastre que terminou com assinalável êxito, acabou por trazer, são e salvos os mineiros, das entranhas da terra, mas também proporcionou aos cientistas e estudiosos, grandes experiências que agora terão de ser partilhadas com cada um daqueles heróis, as experiências vividas durante todo aquele tempo em reclusão no fundo do abismo, descrentes na salvação e entregues a uma esperança que parecia vã, mas que afinal nunca os abandonou e por isso venceram.
São estes pormenores que parecem singelos, mas que os cientistas, médicos e toda classe estudiosa terão de analisar, porque daqui irão retirar-se muitas ilações para o futuro, inclusivamente para os cientistas que têm estudado a vida espacial, pois os vários relatos, serão um bálsamo precioso para futuros casos.
É isto que a sociedade terá de aprender e acreditar, muito sustentada pelas teorias ancestrais, “nunca se deve perder a esperança, porque ela é e será sempre a última a morrer” e isso passa por dotar o ser humano com fortes índices de crença, trabalho que competirá aos psicólogos, porque tal qual o que aconteceu com estes mineiros chilenos, muitos outros casos aparecerão e se não se acreditar no velho rifão, “enquanto há vida há esperança”, nada se conseguirá neste mundo, por vezes parecendo complexo, difícil, quase impossível, mas afinal, acabando por se tornar tão simples, tão prático e tão humanitário.
Parabéns aos técnicos, aos grandes heróis desta aventura e afinal ao mundo inteiro que, mais uma vez soube valer a esta infeliz gente, na hora da verdade.
E agora nesta hora de reflexão e de reconhecimento pelo excelente trabalho desenvolvido pelo homem, em prol do seu semelhante, pena é que, em outras situações dramáticas que infelizmente se registam no mundo, estes milagres não aconteçam, porque era sinal de que afinal o ser humano tinha dado as mãos em prol da paz, da cooperação, da tranquilidade e da harmonia ao cimo da terra e muito particularmente em África onde viver, é quase impossível, com a carência de quase tudo e parece não haver olhos no mundo que se abram para estes gritantes casos, onde se vive num verdadeiro caos, uma horrível calamidade, um desumano e verdadeiro holocausto.

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