blog em memória da gazetilha que "circulou na cidade de Cachoeira do Arari (ilha de Marajó, Estado do Pará) no biênio 1906 / 1907. Fôlha pequena, a 3 colunas. Redigido por Alfredo N. Pereira." (cf. Carlos Rocque, "Grande Enciclopédia da Amazônia"). O editor era meu avô paterno, usava tipográfica manual no Chalé celebrizado nos romances de Dalcídio Jurandir, notadamente "Chove nos campos de Cachoeira" e "Três casas e um rio".

sábado, 9 de outubro de 2010

Marajó depende de eleição no Pará e Amapá

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sem complexo de inferioridade, a folha miúda 'O Arary ' sente-se no dever de tentar sensibilizar os poderes da República para problemas de falta de integração das diversas regiões amazônicas, das quais a grande ilha do Marajó faz parte emblemática. O Pará está sob ameaça dum separatismo tipo sangria desatada, no qual projetos de criação dos estados de Carajás e Tapajós, por uma parte, e do território federal do Marajó, por outra; deixariam o antigo Grão-Pará convertido em um deficitário mini-Pará ou inferiorizado Pará-Mirim.

na verdade, a República Federativa do Brasil deverá ter, no futuro, algo como 50 estados federados. Todavia, por que são agora os estados amazônicos brasileiros alvo dessa divisão a toque de caixa? E não estados das regiões mais desenvolvidas do país, cujo desmembramento poderia desconcentrar a riqueza nacional. Esta é a pergunta que não quer calar. Paira, então, suspeita de que o colonialismo interno e externo retalhando a Amazônia visa a colocar em prática o antigo aforismo "divide e impera"; com que Roma minava resistência e impunha satrápias e províncias dóceis a seu mando. Fica aqui em suspenso a questão do separatismo na Amazônia.

chamamos atenção agora para a curiosa história do Amapá desmembrado do Pará para dar lugar ao Território Federal depois o atual Estado vizinho da margem esquerda do rio Amazonas. A antropologia e a geografia física das ilhas do Marajó indicavam que esta região insular tem mais a ver com o Amapá do que com o Pará, exceto naturalmente os campos do Arari e furos de Breves. Belém considera Marajó como seu fundo de quintal e Macapá, embora tendo profundas raízes demográficas nas ilhas do Pará, olha aos marajoaras como seus parentes pobres. O resultado da desconsideração política pode ser observada, em grande parte, na emigração cladestina e trabalho ilegal transfronteiriço nas Guianas. Se Amapá e Pará tivessem cooperação interestadual mais incisiva, inclusive do Legislativo e Judiciário; poderiam transformar problemas comuns em soluções conjuntas.

Brasília tem a chave para isto incluindo a esfera internacional no que tange às fronteiras. Mas, aparentemente, considera o Tratato de Cooperação Amazônica (TCA) e a OTCA, única organinação multilateral com sede em Brasília, o patinho feio da nova diplomacia sul-americana. Entretanto, seria a OTCA talvez o fórum especializado para coordenar a agenda das Guianas, incluindo aí as Guianas brasileira (Amapá, parte do Pará e Amazonas e Roraima) e venezuelana (Amazonas, Estado bolívar e Delta-Amacuro). Oxalá o próximo governo federal com os eleitos de 31 de outubro no Pará e Amapá, considerem estas modestas ponderações da nossa folha miúda.

De todo modo, cumpre lembrar aos leitores na internet que a modalidade de cooperação internacional descentralizada poderia desenvolver relações de vizinhança mais dinâmicas na área das Guianas do que tem sido a prática da diplomacia centralizada nas capitais nacionais dos países amazônicos. Então, gostaria de frisar que o Brasil foi prioneiro desta modalidade de relações externas sub-nacionais. Com que os governadores do Rio Grande do Sul, Pedro Simon, no Mercosul; Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, no campo da Internacional Socialista e João Capiberibe, do Amapá, na área das Guianas com apoio da Fundação Mitterrand (França), foram pioneiros.

Durante esse tempo, o Pará teve um comportamento displicente sobre o assunto e o Amapá nunca revelou maior solidariedade em relações a seus parentes das ilhas do Marajó. Portanto, as eleições em curso não só são oportunas para debater os problemas de vizinhança transfronteiriça como também para esboçar uma aliança interestadual capaz de coordenar a pauta do estuário amazônico como um todo.

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