blog em memória da gazetilha que "circulou na cidade de Cachoeira do Arari (ilha de Marajó, Estado do Pará) no biênio 1906 / 1907. Fôlha pequena, a 3 colunas. Redigido por Alfredo N. Pereira." (cf. Carlos Rocque, "Grande Enciclopédia da Amazônia"). O editor era meu avô paterno, usava tipográfica manual no Chalé celebrizado nos romances de Dalcídio Jurandir, notadamente "Chove nos campos de Cachoeira" e "Três casas e um rio".

domingo, 12 de setembro de 2010

o Grito nas margens nada plácidas da história da História

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Vejam bem, senhoras e senhores, se o grito da Independência não foi bem assim como dizem aí a poucos metros das margens que eram plácidas no riacho Vermelho (no tupi-guarani, Ipiranga) dos campos de Piratininga, atual metrópole sulamericana de São Paulo; imaginem agora por onde anda a verdade na história da adesão da Amazônia ao Império do Brasil (outrora, chamada o Maranhão e Grão-Pará).

Vistos de longe, o Norte e Nordeste são aquelas distantes periferias - o grande sertão brasílico, rico por natureza porém bárbaro e pobre - conquistadas por heróis da pátria. De perto, é outra coisa. As antigas certezas não se sustentam, reina então uma amazônica confusão rodeada de dúvidas e desconhecimento. De todo modo, sem a marcha do Nordeste rumo ao Norte não haveria uma Amazônia brasileira na história. Mas, também é certo que o rio das "amazonas", tal qual uma enorme flor carnívora; abrindo-se à conquista da velha terra dos Tapuias a nativos e estrangeiros colocava-se a prêmio ditando o processo histórico. Desde cedo, antes mesmo do descobrimento do Brasil, se estabeleceu a complexa dialética amazônica de conquista e resistência entre o vasto mar e o grande sertão. Das tensões e contradições a cegas do processo de construção do território norte brasileiro inventou-se a Amazônia há quase 400 anos (1615/1615 - 2015/2016)... O primeiro grande choque entre nativos e colonizadores aconteceu em 7 de janeiro de 1619, com o levante geral dos Tupinambás do Pará liderados pelo cacique Guamiaba (Cabelo de Velha) reprimidos duramente e explorados até a extinção étnica e assimilação demográfica até a explosão da Cabanagem, em 7 de janeiro de 1835 a cabo das falsificações históricas e desengano da Adesão à Independência, de 1823. Na verdade, a manifestada vontade popular amazônida para a República federal brasileira a bordo da Confederação do Equador; dada erradamente nas páginas da historiografia nacional como rude "separatismo" pela burguesia intelectual do Império...

Resumo da ópera. Lá e cá eram duas colônias lusas separadas, ambas sob domínio da coroa da Inglaterra através da posse coadjuvante de Portugal na América, a viver e lutar para fazer dessas duas colônias ultramarinas uma pátria amada, mãe gentil, país do Futuro, República Federativa do Brasil. Vejam a matéria do jornal eletrônico Vermelho - www.vermelho.org.br

11 de Setembro de 2010 - 20h05

Rabelo: a independência, a verdade e o papel de Bonifácio

Existem muitos fatos de nossa história mal interpretados pela historiografia liberal, ainda hegemônica. Um bom exemplo desta visão está na forma como as coisas ocorreram de fato no dia 7 de setembro de 1822, data recém-comemorada esta semana em todo o país.

Por Renato Rabelo*


Cada vez mais se procura ocultar a verdadeiro papel do patriarca da independência, José Bonifácio. O que nos é vendido como uma “verdadeira festa”, onde o príncipe herdeiro da coroa portuguesa -- supostamente por uma questão de pura vontade particular -- proclamou nossa independência é na verdade a síntese de um longo processo histórico de lutas, avanços e revezes. Nosso processo de independência foi longo e cruento e teve suas origens mais remotas nos movimentos nativistas, como a revolta de Bequimão no Maranhão (1684), guerra dos emboabas (1707-1709) e a revolta de Felipe dos Santos em Minas Gerais (1720). Passou pela Inconfidência Mineira (1789), Conjuração Baiana (1799), Insurreição Pernambucana (1817), chegada da família real portuguesa (1808), a elevação do país à condição de Reino Unido (1815) e a decisão de D. Pedro em ficar no país (9 de janeiro).

O processo, também, não terminou no 7 de Setembro, como geralmente se pensa. Mesmo depois daquela data, o Brasil ainda não estava completamente libertado. No norte e nordeste do país, devido à forte influência portuguesa no comércio e junto à tropa, havia muita resistência em se separar de Portugal. Eclodiram, então, as chamadas guerras da independência na Bahia, Piauí e Maranhão. Ali foram mobilizados tantos homens quanto nas guerras de Independência ocorridas na América espanhola. A Bahia, depois de muita luta, tornou-se independente apenas em 2 de julho de 1823, o Maranhão no 28 de julho.

Para muitos patriotas a tarefa não estava completada. No trono ainda tínhamos um príncipe estrangeiro, que dividia sua fidelidade entre o Brasil e o pai que reinava em Portugal. Mesmo tendo abdicado ao trono português em favor de sua filha, continuava se interessando pelos problemas lusitanos. Existia uma preocupação real dos brasileiros quanto a uma possível recolonização do país.

Em 1831, depois de muitos conflitos sangrentos entre nacionalistas e portugueses nas ruas do Rio de Janeiro, D. Pedro I renunciou. Somente então foi, de fato, concluída a Independência do Brasil. Portanto, foram várias datas e vários personagens que se envolveram naquele conturbado processo, mas apenas alguns deles acabaram sendo destacados, selecionados, para compor o panteão dos fatos e heróis nacionais. O título de herói da Independência coube a D. Pedro I e o fato mais importante ficou sendo o grito dado às margens do Ipiranga: “Independência ou morte”. Esta escolha – nada casual - se encaixava perfeitamente aos interesses das elites brasileiras em busca de símbolos que melhor expressassem e servissem à sua dominação de classe. A Independência não se realizaria sem o pensamento e ação dos setores populares e radicais do independentismo, como Cipriano Barata.

É assim que vemos estes fatos e é desta forma – com uma visão materialista e dialética – que o PCdoB casa esta data com o nascedouro de nosso Primeiro Ciclo Civilizacional. O passo primário para a formação desta grande e portentosa nação que na atualidade joga papel de vanguarda na construção de um mundo multipolar, pacífico e menos assimétrico.

Mas qual a relação entre a formação desta respeitada nação e o nosso processo de independência? O pensamento liberal, utilizando o método linear, reto (daí a noção daqueles acontecimentos como uma “festa”) esconde o essencial daquele momento que é justamente a noção da necessidade de formação de um poderoso Estado Nacional brasileiro, senhor de seu destino. Daí, cada vez mais se procura ocultar a verdadeiro papel do patriarca da independência, José Bonifácio, e seu objetivo estratégico de construir um Estado capaz de dar cabo às demandas de um novo e grande território; dar cabo das demandas em prol da formação de uma nação industrial e livre da mão-de-obra escrava.

As lutas pela independência e o conceito de uma nação nascida diante da conjuntura da época e das elaborações de Bonifácio guardam grande sentido atual. Não é de somenos que a “censura branca” ao pensamento progressista de José Bonifácio – empreendida pelos liberais (agraristas ontem, monetaristas hoje) – tem estreita relação com o projeto neoliberal de proscrever o nosso desenvolvimento, liquidar com a nossa indústria e colocar o nosso país no passo da utilização de nossas “vantagens comparativas” em matéria de agricultura; em transformar o Brasil em eterno “celeiro do mundo”. Tratam-se de dois projetos de nação que se confrontam no decorrer de quase dois séculos. E o próprio “grito do Ipiranga” sinalizou a vitória momentânea dos setores progressistas do Brasil de então. É desta forma comparativa e histórica que procuramos enxergar as coisas.

À luz da atual quadra da luta de classes em nosso país, em que estes mesmos dois projetos voltam a se digladiar e cuja vitória de um dos dois campos determinará o futuro de nossa nação, é que me remeto a uma análise mais profunda dos fatos em torno do 7 de setembro de 1822.

*presidente nacional do PCdoB

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